Administrador de Empresas (UERJ), pós-graduado em Engenharia Econômica (UERJ), certificado CFP® e Ancord. 21 anos de carreira no mercado financeiro, com passagens pelo atendimento Private, Alta Renda, Gestora de Recursos, Tesouraria e Educadoria Corporativa. Desde 2018, sócio da Pedra Azul Investimentos, escritório de assessoria de investimentos sediado em Vitória-ES.

Bolsonaro ou Lula: o que esperar do mercado financeiro após as eleições?

Quase empatados nas pesquisas, os candidatos a presidente tem abordagens e propostas diferentes para a economia. Entenda o que pode ocorrer a partir da próxima semana

A disputa eleitoral deste ano está muito acirrada. Não é exagero dizer que a apuração dos votos no próximo domingo (30) será o programa do ano, em uma época de forte polarização, emoções à flor da pele e rivalidade digna de um Fla-Flu.

Para os investidores, é importante entender as diferenças entre as propostas em diversos pontos. Cabe lembrar que os dois candidatos já sentaram na cadeira presidencial. Portanto, além de avaliar as promessas de campanha, também podemos olhar com muita atenção para os governos anteriores a fim de entender o que cada um realmente pensa e o que pretende fazer.

O foco aqui é prever os impactos nos investimentos, na Bolsa de Valores, no dólar e na renda fixa. O mercado não tem amor, não tem time preferido, ele é um misto de racionalidade e emoção em busca de retorno.

Qualquer investidor que tenha 100 reais investidos está diretamente inserido neste contexto, porque o mercado financeiro sempre será atingido pelas políticas públicas.

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Brasil: situação econômica é incerta. Crédito: Sean Gladwell

Algumas ações da Bolsa sofrem impactos mais diretos em função das pesquisas eleitorais. As ações de estatais, como o Banco do Brasil e a Petrobras, se elevaram fortemente com o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas durante a terceira semana de outubro, voltando a cair após o incidente envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson, que seria uma ameaça para a campanha de Bolsonaro.

O histórico de intervenção dos governos do PT nas empresas estatais pesa contra a avaliação dessas ações, considerando ainda todo o episódio envolvendo o Petrolão. Estas empresas tiveram elevação de rentabilidade no Governo Bolsonaro, que é, inclusive, mais favorável a privatizações de empresa públicas.

Empresas concessionárias de serviços, como as distribuidoras de energia elétrica, também se ressentem das políticas mais intervencionistas no início da década passada, principalmente no governo Dilma.

Por outro lado, políticas específicas de Governo como o ProUni, que paga o curso universitário para jovens de baixa renda em universidades particulares, criado e defendido pelo PT, poderiam, por exemplo, trazer impacto positivo para ações ligadas ao setor educacional. Uma maior distribuição de renda e aumento do salário mínimo, também bandeiras da esquerda, poderia ajudar a recuperar empresas ligadas ao consumo.

MERCADO EXTERNO

As empresas exportadoras, principalmente as que são ligadas à commodities, recebem uma influência maior do mercado externo do que do mercado interno. A dinâmica dos preços do minério de ferro, por exemplo, tem muito mais a ver com a economia chinesa do que com a nossa economia brasileira.

Os preços dos alimentos, como soja ou milho, cotados no mercado internacional, sofrem influência de oferta e demanda em diversas partes do mundo, processo sobre o qual não temos controle. O que pode mudar um pouco esse jogo é a força ou fraqueza da nossa moeda, principalmente contra o dólar e o yuan, o que afeta a receita das empresas exportadoras, e aí está o ponto mais sensível às políticas públicas.

O agronegócio, por sua vez, grande motor do crescimento brasileiro, ainda depende de financiamento dos bancos públicos (e privados), e interage fortemente com a política ambiental. Como somos exportadores de alimentos, o sucesso do agronegócio ajuda na entrada de divisas e contribui para a manutenção ou queda do preço do dólar.

TETO DE GASTOS

Falando do Ibovespa e da nossa Bolsa de Valores como um todo, um dos maiores focos dos investidores é a política fiscal. É essencial que o país tenha estabilidade na dívida pública e consiga ser financeiramente sustentável ao longo do tempo, o que impacta na credibilidade do país como um todo.

Nesse aspecto, a discussão sobre o teto de gastos vem tendo uma abordagem diferente entre as campanhas. O ministro Paulo Guedes já disse que quer encaminhar uma PEC para alterar o teto de gastos, flexibilizando a regra.

Lula declarou que quer acabar com o teto. A regra do teto é uma âncora fiscal, que limita o montante a ser gasto pelo Governo ano a ano pela inflação do período anterior.

SALÁRIO MÍNIMO

Outra questão relevante é sobre os reajustes do salário mínimo. Enquanto o atual governo fala em reajuste de pelo menos a inflação do período, a campanha do PT defende aumento real acima da inflação.

Um salário mínimo maior impacta os gastos públicos, principalmente na Previdência, e pode alimentar a inflação caso não haja aumento de produtividade na economia, o que anula no médio prazo o efeito de curto prazo do aumento real de salários.

PAPEL DO ESTADO

Quanto ao funcionalismo público e ao tamanho da máquina governamental, os governos do PT foram de expansão do número de funcionários públicos e do gasto administrativo, processo que foi desacelerado desde o Governo Temer.

Toda a discussão sobre o gasto público tem a ver com o papel do Estado. Para a direita, o Estado atua apenas onde é estritamente necessário, e permite que o crescimento econômico seja conduzido principalmente pela iniciativa privada. Para a esquerda, um Estado forte induz o crescimento através de gastos públicos.

A eficácia de cada abordagem depende fortemente da eficiência do investimento, e levanta a discussão sobre se o Estado tem mais ou menos eficiência do que a iniciativa privada para fazer o país crescer, elevando a produtividade.

Aumentar os gastos de forma demasiada, ameaçando a sustentabilidade na dívida, prejudica o risco do país. Joga pressão sobre as taxas de juros longos, porque torna os títulos públicos brasileiros menos atrativos. Isso pode levar à saída de dólares do Brasil, o que eleva a sua cotação no mercado.

O agravamento deste cenário pode ocasionar o aumento da Selic, o que termina por realimentar a alta dos juros longos, desacelerando a economia e diminuindo a atratividade da renda variável.

De uma forma geral, a Bolsa está barata, acompanhado o alto grau de incerteza sobre o nosso futuro político. É possível que a Bolsa brasileira “destrave” após as eleições, basta saber em qual medida e para qual direção, o que depende diretamente do resultado da disputa presidencial, e do que será feito pelos nossos governantes quando terminar a época das promessas de campanha e passarmos para as ações efetivas.

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