A Petrobras divulgou, no início de março, um lucro bastante robusto para o ano de 2022, de pouco mais de R$ 188 bilhões. A companhia creditou o resultado ao cumprimento de todas as metas de produção e à alta no preço do petróleo.
É bom lembrar que, em 2017, a empresa teve prejuízo, voltando a ter lucro a partir de 2018. Desde então, houve uma sucessão de mudanças e reestruturações, principalmente de desalavancagem financeira, com redução da dívida, e desinvestimento (ou venda de ativos).
Pode parecer óbvio, mas o que a Petrobras fez, em palavras simples, foi concentrar recursos e esforços onde ela é lucrativa, buscando eficiência. Em 2022, foram R$ 279 bilhões em pagamentos ao governo, entre impostos e participações governamentais, o que contribuiu para melhorar a situação fiscal do país.
Após um excelente ano para a Petrobras, seria de se esperar que a ação da empresa estivesse em forte alta, mas não é isso que está acontecendo. Tanto a PETR3 (ação ordinária) quando a PETR4 (ação preferencial) patinam na Bolsa abaixo dos R$ 30, longe do topo histórico. O desempenho das ações da petrolífera tem sido sofrível nos últimos anos, com retorno abaixo do Ibovespa.
O indicador de Preço/Lucro (P/L) das ações da empresa está agora abaixo de 2 (dois). Isso significa que o lucro da companhia no ano passado representa mais da metade do valor da empresa em Bolsa. Em outras palavras, se o lucro da empresa se repetisse nos próximos anos, não levaria dois anos até que o acionista recebesse o retorno do seu investimentos na forma de lucro.
A média histórica do índice P/L do Ibovespa oscila entre 10 e 11 vezes, muito acima do patamar atual (de cerca de 6 vezes) e da própria Petrobras neste momento (abaixo de 2 vezes).
A avaliação do preço justo de uma empresa (valuation) pode ser feita por diversas metodologias, mas uma das mais consagradas é o cálculo do valor presente da ação pelo desconto dos dividendos futuros. Para isso, é necessário projetar os lucros e dividendos esperados para os próximos anos, e nessa conta entram também os juros praticados no Brasil, que estão altos. Portanto, para o preço atual da ação importa muito mais o lucro futuro do que o lucro passado.
Oscilações
Logicamente, o lucro das empresas é uma trajetória sinuosa e, dependendo do tipo de negócio, pode ter grandes oscilações. No caso da Petrobras, uma empresa pública, há o risco de intervenção do governo. Apesar de haver o controle público sobre a companhia, a maior parte dos dividendos é distribuída a acionistas privados, brasileiros e estrangeiros.
Quando o governo intervém na companhia por razões políticas, geralmente para baixar o preço dos combustíveis para a população em geral, fica evidenciado um conflito de interesses entre o que o governo quer (combustíveis mais baratos) e o que o acionista quer (lucro).
Também não se pode esquecer que a empresa foi objeto, há não muitos anos, de um grande escândalo de corrupção e mau uso dos recursos. Investimentos com viés político, sem análise técnica e mercadológica adequada, impactaram a eficiência e endividaram a empresa. Desvio de recursos com superfaturamento de gastos consumiu o caixa. O temor de que o atual Governo volte aos velhos costumes cria um ambiente de incerteza que faz com que o investidor penalize o preço das ações.
As primeiras declarações acerca da Petrobras no novo governo não têm sido animadoras para os acionistas. O lucro da empresa (que também distribui dividendos ao próprio governo) tem sido classificado como o vilão, responsável pelo preço alto dos combustíveis.
A ideia de que o petróleo tem que render mais para os consumidores brasileiros do que para os acionistas acende o conflito de interesses que assusta os investidores. É importante ressaltar que foi do próprio governo (do país e não de um partido) a decisão de ter acionistas privados, cujos direitos precisam ser respeitados.
Por fim, o preço do petróleo é instável e segue cotações internacionais. Como o Brasil não é 100% autossuficiente, precisa importar parte do que consome, ficando sujeito às oscilações do preço lá fora. Sempre há o risco de que o preço do petróleo caia, o que seria ruim para a lucratividade.
Olhando para trás, a ação poderia ser considerada barata. Olhando para frente, há muita incerteza e dificuldade de projetar os lucros futuros. Na dúvida (e na incerteza), é esperado que as ações reflitam o receio de que a trajetória recente de sucesso da Petrobras encontre dificuldades para se perpetuar nos próximos anos.
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