No auge da pandemia, vivemos longo período de juros extraordinariamente baixos, com meta Selic a 2% ao ano. O objetivo era dar suporte à economia brasileira enquanto esta sofria os efeitos devastadores da interrupção da mobilidade.
Desde então, com a aceleração da inflação em todo o mundo, o nosso Banco Central iniciou um forte ciclo de aumento da taxa, com o objetivo de evitar a contaminação inercial da alta dos preços, ajustando os juros reais, ou seja, voltando a ter juros básicos acima da inflação.
Nos Estados Unidos, mais recentemente, o Banco Central americano – FED – iniciou um movimento semelhante, considerando não somente a inflação altíssima para os padrões americanos, mas também o aquecimento da economia por lá com salários pressionadíssimos, o que aumenta a inércia inflacionária.
O resultado foi o pior desempenho, no primeiro semestre de 2022, do índice S&P, um dos principais índices de ações dos EUA, em décadas. A queda foi forte e sentida em todo o mundo.
Essa situação nos lembra da forte relação que existe entre juros e Bolsa. A taxa básica de um país representa o custo de oportunidade, a expectativa de retorno sem risco, o balizador de análise de projetos, a primeira linha da análise de atratividade de qualquer investimento. Não somente de renda fixa pós-fixada, mas também de ações, fundos imobiliários, títulos de renda fixa mais longos, projetos de investimento em empresas e compra de imóveis. A taxa básica de juros também impacta financiamentos e empréstimos bancários e captações no mercado de capitais.
Com juros altos, é como se o mercado ficasse constantemente com o “estilingue puxado”. A renda fixa pós-fixada, conservadora, acaba concorrendo com a atratividade dos investimentos mais arrojados. Por isso, a Bolsa sofre quando os juros aumentam, principalmente os juros longos, que por sua vez são calculados em função da taxa básica (juro de curtíssimo prazo) e das expectativas de futuro.
Se os juros pagam mais, os investidores exigem mais retorno das ações, e isso desvaloriza as cotações no curto prazo. Os Fundos Imobiliários precisam pagar aluguéis mais altos em relação ao valor da cota, fazendo seu preço cair. Os títulos de Renda Fixa longos precisam remunerar melhor para concorrer com os juros de curto prazo e por isso estes títulos desvalorizam.
Sendo assim, quando vivemos períodos de juros altos, aumentam os prêmios acumulados em diversas classes de ativos, e não somente na Bolsa. Fundos Imobiliários, Títulos indexados ao IPCA e até o dólar, como balizador de certos tipos de investimento, também acumula prêmio, porque a cotação tende a cair com efeito dos juros mais altos. Da mesma forma, quando começa o ciclo de baixa na taxa, é como se o mercado soltasse o “freio de mão”: ele volta a rodar mais suave.
É por isso que, às vezes, dependendo do perfil do investidor, não faz sentido vender Bolsa para comprar Renda Fixa quando os juros já estão altos. O tempo já pode ter passado.
Como o mercado se antecipa, estando os juros já em patamares mais elevados, como agora, fazer essa troca é basicamente mudar de uma classe que tem muito retorno a dar (Selic alta) para outra que também acumulou muito prêmio – Ações, FIIs, Títulos de Renda Fixa longos. Todas essas classes já estão desvalorizadas em um certo sentido, sob efeito dos juros.
Na verdade, a hora de vender Bolsa é quando os juros estão baixos e as Ações estão em patamar historicamente alto, ou seja o contrário do que diz o senso comum.
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