O Banco Central brasileiro foi um dos primeiros a começar a subir os juros no mundo, a fim de combater a galopante inflação que herdamos da pandemia de Covid-19 e da Guerra da Ucrânia. Por isso, já estamos com juros altos faz um certo tempo. A expectativa do mercado já foi de que a Selic começaria a cair em março de 2023.
Aos poucos, essa expectativa foi se ajustando para que o ciclo de afrouxamento na taxa começasse no segundo semestre deste ano. Depois da reunião desta quarta-feira (1º), o mercado deve desistir de esperar juros mais baixos até o fim de 2023.
O motivo foi o duro comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária) após a reunião — em que manteve a Selic em 13,75% ao ano —, quando reconheceu que a inflação pode demorar mais do que o esperado para começar a ceder. Quando determina a taxa Selic, o Copom precisa olhar a expectativa de inflação para os próximos meses e anos, e não somente a inflação corrente.
No entanto, quando percebe que a inércia inflacionária está alta e, na medida em que o mercado começa a se preparar para uma inflação mais persistente, o Copom pode abortar a ideia de baixar juros. E para deixar a situação ainda mais crítica, ontem o comitê admitiu, pela primeira vez neste ciclo, a possibilidade de subir juros, se for necessário. Se estávamos calculando e projetando quando os juros começariam a cair, agora temos que lidar com a possiblidade de que eles subam.
É um balde de água fria, porque, quando a expectativa do mercado é de uma Selic mais alta por mais tempo, os juros longos aumentam, prejudicando o custo do crédito, dos financiamentos de bens e dos empréstimos de longo prazo e, nesse caso, a economia tende a desacelerar.
Lélio Monteiro
Administrador
"É preciso que o Banco Central demonstre que é diligente e está empenhado para controlar a inflação. Por isso, ele precisa comunicar sua visão de forma clara e transparente. Isso ajuda a calibrar expectativas e contribui para conter as forças inerciais que poderiam pressionar ainda mais a inflação."
Neste caso específico, a manutenção da Selic em 13,75% teve menos relevância do que o conteúdo do comunicado que acompanhou a decisão. Foi duro, porque o cenário se deteriorou e pode ensejar uma atuação mais restritiva no futuro.
Taxa nos EUA
Nos EUA, o Federal Reserve, banco central americano, que demorou um pouco mais para iniciar o movimento de alta nos juros, está perto do fim do ciclo. Ontem, eles aumentaram sua taxa básica em 0,25% ao ano, mas sinalizaram que é possível que a inflação comece a mostrar sinais de enfraquecimento em breve e que, talvez, não seja necessária toda a alta de juros que o mercado espera.
É um discurso um pouco mais brando. Cabe lembrar que, por diversos motivos, o Banco Central americano tem muito mais força de controle da inflação via taxa de juros do que o Banco Central brasileiro.
Como nossa expectativa de juros futuros ficará um pouco mais alta em relação aos juros americanos, isso pode ajudar a fazer cair a cotação do dólar, trazendo algum efeito positivo sobre os preços.
Uma das alternativas mais importantes para ajudar a combater a inflação é apertar o cinto dos gastos públicos. Infelizmente, esse não é o cenário no atual governo. E o Banco Central sabe disso, tanto que citou preocupações com a situação fiscal brasileira como uma ameaça à estabilidade monetária.
Portanto, nós podemos esperar tempos um tanto difíceis por aqui. Juros mais altos significam crédito mais caro e menos atratividade para projetos de investimento direto. Em um cenário ideal, a melhor coisa que poderia acontecer é a Selic começar a cair. No entanto, não se pode brincar com inflação, ainda mais com o nosso terrível passado de descontrole inflacionário. O Banco Central não pode se omitir, caso o remédio (amargo) seja necessário.
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