É inegável a funcionalidade e utilidade das criptomoedas, meio pelo qual é possível transferir recursos de forma quase instantânea. Para comprar criptomoedas, o caminho tradicional seria fazê-lo através de corretoras descentralizadas, ou seja, meros intermediários que oferecem o meio para registro das operações.
Neste caso, o detentor direto das criptomoedas é o próprio usuário final, que precisa manter seguras as senhas, chaves e tokens. Caso haja uma wallet com token físico, existe ainda a necessidade da sua guarda em local seguro.
Como a segurança dessas criptomoedas está na manutenção do sigilo das informações pessoais, o maior risco de roubo ou fraude se dá através de phishing, em que fraudadores enviam mensagens maliciosas com objetivo de capturar os dados, induzindo o detentor a digitá-los em algum lugar, assim como ocorre no mercado financeiro tradicional.
Para simplificar o processo, existem no mercado diversas formas de comprar criptomoedas através de estruturas centralizadoras privadas, como fundos de investimento, bancos, e corretoras como a FTX. Neste caso, quem detém a posse direta das criptomoedas é a instituição intermediária. O usuário final terá a posse indireta, e sua carteira será visível apenas através do sistema interno da instituição.
É importante lembrar que as criptomoedas não são custodiadas em um órgão centralizador, como as Bolsas, pois através do sistema de blockchain esse registro é descentralizado. É nessa lacuna que instituições atuam para “substituir”, de certa forma, a falta de um registro central.
Em um mercado ainda pouco regulado, e que tem na descentralização do registro e em certa liberdade financeira alguns dos seus princípios mais básicos, as instituições que atuam de forma centralizada precisam ter em seus processos alto grau de fidúcia e responsabilidade sobre os ativos.
E neste caso paira uma grande dúvida nos órgãos governamentais responsáveis pela normatização e fiscalização do mercado financeiro (como a SEC nos EUA e a CVM no Brasil) sobre se é necessário aumentar a regulação, o que elevaria a segurança mas poderia deter parte do espírito disruptivo do mercado cripto.
O que vem sendo revelado sobre a FTX é que diversos erros podem ter sido cometidos na gestão dos seus ativos. A corretora permitia a alavancagem aos seus usuários, o que significa colocar em risco mais do que o patrimônio internalizado em criptomoedas. Em caso de prejuízo nas operações, e posterior inadimplência por parte de alguns clientes, o prejuízo ficaria com a corretora, que teria que repor os ativos perdidos.
As suspeitas sobre a FTX ainda incluem períodos especiais de saques de recursos por funcionários após o início da crise e desvio dos recursos para gastos não autorizados. É possível ainda que a própria FTX tenha operado alavancada a partir do saldo de criptomoedas custodiadas, em que pese o fato de que o Bitcoin tem enfrentado um longo período de quedas na sua cotação.
Por fim, a FTX ainda se utilizava de uma prática um tanto questionável, que é de lastrear seus ativos em um token chamado FFT, emitido pela própria corretora. Qualquer criptomoeda, principalmente aquela emitida de forma privada e centralizada, e ligada a uma instituição específica, pode sofrer um ataque em função da reputação do seu emissor, naturalmente foi isso que aconteceu.
Agora, a FTX, pelo que parece, não tem ativos suficientes em carteira para honrar as posições dos seus clientes, o que é um sinal claro de que algo deu errado.
Se é um pouco mais trabalhoso deter uma carteira digital de criptomoedas de forma direta, estão postos na mesa os riscos de fazê-lo através de uma instituição centralizada como a FTX, antes defendida por estrelas do esporte como Tom Brady e Stephen Curry e que recebeu aportes de fundos de Private Equity e depósitos de investidores institucionais.
Nem sempre aquilo que reluz é ouro. A FTX era um caso de empresa considerada bem-sucedida, mas fracassou em gestão e controles internos.
Para comprar criptomoedas de forma centralizada e diminuir os riscos relativos à custódia dos ativos, existem fundos de investimentos, ETFs, bancos e corretoras tradicionais que prestam o serviço sem oferecer alavancagem aos seus clientes, apenas custodiando os ativos e eventualmente cobrando corretagem por isso.
Espera-se que instituições tradicionais realizem a gestão e guarda dos ativos utilizando-se de processos internos consagrados pelo tempo e análogos às normas vigentes para investimentos tradicionais. Em um próximo momento, parece óbvio que será preciso estabelecer mais regulação, mesmo que isso traga mudanças inevitáveis para o mercado de criptomoedas.
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