Na última quarta-feira, 31 de maio, o jornal Valor Econômico divulgou matéria falando sobre os problemas na gestora de recursos Infinity, cujos fundos (já sob nova gestão, eleita pelos cotistas, a Vanquish) estariam sem liquidez e fechados para resgates. Na prática, o que se pode entender a partir das informações disponíveis é que os fundos estão sem patrimônio e, portanto, não têm condições de devolver os recursos investidos aos cotistas.
Apesar dos fundos de investimento da Infinity terem sido comercializados como produtos para clientes conservadores, agora se sabe que as perdas foram ocasionadas por instrumentos derivativos e, ainda segundo o jornal Valor, emitidos contra a própria gestora, o que é ilegal.
As duas perguntas que as pessoas mais fizeram ao tomar conhecimento desse caso foram: “O que são derivativos?” e “Como é possível que fundos conservadores tenham derivativos em sua carteira?”.
Então, vamos por partes. Derivativos são instrumentos financeiros "derivados", daí a origem do seu nome. Isso ocorre porque o derivativo seguirá, de alguma forma, um ativo objeto, que pode ser uma moeda estrangeira, uma ação ou até um índice como o CDI. Os derivativos mais conhecidos são as opções, os termos e os futuros — e muitas outras possibilidades se abrem a partir da combinação de suas diversas formas.
A primeira questão é que os derivativos precisam sempre servir a um propósito, a um objetivo. Há investidores arrojados, que podem usar derivativos para tomar mais risco, dentro de suas possibilidades e a partir da sua carteira de investimentos.
Por outro lado, investidores também podem usar os derivativos para hedge ou proteção, diminuindo o risco de mercado nas suas posições e suavizando a volatilidade da carteira. Sendo assim, os derivativos podem servir muito bem para investidores conservadores, desde que estejam alinhados com o propósito definido na estratégia de investimentos.
Dessa forma, fica mais fácil entender que o problema não é a existência de derivativos em um fundo conservador, mas a forma como foram utilizados. Se os derivativos servirem para cumprir o objetivo e o propósito do fundo, alinhados com os interesses dos cotistas, tudo bem.
O problema começa caso os derivativos sejam utilizados para abrir posições de risco que os investidores não poderiam tomar, em desacordo com a estratégia proposta. Inclusive, há fundos que permitem que, através dos derivativos, seja aberta uma posição alavancada, onde o comprometimento de risco é maior que o próprio patrimônio do fundo, mas isso precisa estar previsto no regulamento e, portanto, ser de conhecimento dos cotistas, quando assinam o termo de adesão e compram cotas do fundo.
A segunda questão é o fato de os derivativos terem sido, no caso da Infinity e de acordo com as informações disponíveis até agora, emitidos contra a própria gestora. Isso cria um conflito de interesses irreconciliável. Se a parte em um derivativo toma prejuízo no momento da sua liquidação, a contraparte tem lucro, e vice-versa. Nesse caso, a gestora não poderia ser contraparte dos seus próprios cotistas, porque os interesses serão inevitavelmente conflitantes.
Por isso, as melhores práticas são no sentido de abrir posições de derivativos contra outros players, principalmente a Bolsa (B3) e outras grandes instituições do mercado brasileiro e internacional, mas nunca contra a gestora do fundo e, de preferência, contra instituição financeira que não seja do mesmo grupo, dentro do conceito de segregação (chinese wall).
Quando a Anbima, entidade privada de autorregulação das instituições financeiras, tomou conhecimento das irregularidades na Infinity, descredenciou a gestora. Mesmo que a Infinity, após o descredenciamento da Anbima, ainda mantivesse o registro junto à CVM - Comissão de Valores Mobiliários e estivesse autorizada a operar, diversos cotistas correram para sacar os recursos. Essa corrida de saques levou a gestora a liquidar suas posições rapidamente, aumentando as dificuldades. Aqueles cotistas que preferiram esperar um pouco mais estão agora nessa situação difícil.
Segundo o comunicado oficial da Unimed Vitória, uma das mais afetadas pelo colapso dos fundos, a gestora Infinity terá reuniões com os cotistas para falar sobre o ressarcimento de danos. Certamente não será uma questão de fácil resolução, que pode terminar pela via judicial.
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