Se há algo que é muito caro ao mercado financeiro é a previsibilidade. Para tomar suas decisões, o investidor precisa conseguir projetar de forma razoável o que vai acontecer no futuro. Por outro lado, quando a incerteza é muito alta, como habitualmente ocorre em ano de eleições, os investidores se retraem e assumem posição cautelosa.
Outro aspecto muito importante para o investidor é a liberdade econômica e a existência de ambiente de negócios saudável. Qualquer cerceamento da livre iniciativa ou risco de interferência aumenta o risco e diminui a atratividade de qualquer investimento.
O movimento que vimos no último domingo (8), em cenas lamentáveis de depredação do patrimônio público, tinha um claro viés de ruptura institucional. E, nesse caso, é preciso entender que se há algo que seria devastador para os mercados é a quebra da ordem democrática e do Estado de direito.
Ainda há pessoas que acreditam que a Bolsa subiria caso um governo (golpista) de direita subisse ao poder. É um engano. O Brasil – todos nós, diga-se de passagem – sofreria severas sanções econômicas e se tornaria um pária na comunidade internacional. Nossas empresas exportadoras seriam as primeiras afetadas e penalizadas, mesmo que as commodities que produzimos sejam essenciais para o mundo. A menor entrada de divisas e a possível fuga de capitais levaria a nossa moeda a desvalorizar fortemente, espalhando mais inflação e empobrecendo a população.
Se no passado houve mais condescendência internacional com a ditadura militar, o cenário hoje é outro. O Brasil precisa ter uma boa relação com o mundo, porque a globalização e o crescimento da importância do comércio internacional se impõem. O capitalismo é a regra, e é inegável que os países mais ricos e mais produtivos do mundo são os mais capitalistas.
Caminhar para uma ruptura é pular no abismo, e mesmo que seja uma ditadura de direita, a tendência é que o país tenha uma queda na qualidade do nosso ambiente de negócios, tornando-se inclusive menos capitalista do que antes. É um paradoxo, que nos ensina que antes de existir golpe de direita ou de esquerda, existe golpe. E o resultado não é bom.
Uma ditadura não se mantém pela lei e pela ordem, mas necessariamente precisa da imposição pela força. A ruptura só poderia acontecer em uma revolução por armas, seja pelos militares, seja pela própria população. Por isso, um governo ditatorial tende a cercear a liberdade para se manter no poder, basta olhar a história do mundo para ver quantos exemplos temos.
Fica claro que o “dia seguinte” a uma ruptura ou golpe não seria nada bom para os mercados. A Bolsa cairia sem chão nem apoio. O dólar subiria de uma forma que não podemos prever. Os juros também subiriam, podendo inclusive inviabilizar o carregamento da dívida pública. O próximo passo seria o calote da dívida, o que coloca em risco até o pagamento das aposentadorias e benefícios do Governo.
Daqui a quatro anos, haverá novas eleições. Até lá, quem é oposição, que se organize, se mobilize e busque o bom combate dentro das regras da democracia. Não dê trégua para quem está no poder. Quem é situação, busque fazer o melhor governo, não dando chance para a oposição. Assim é o jogo democrático. Ele é complicado, doloroso e complexo. Nem sempre é justo. Mas ainda é o melhor que temos.
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