Novos velhos tempos. De uma forma ou de outra, teríamos um presidente de segundo (ou terceiro) mandato, portanto muita coisa não seria surpresa.
Se a eleição de presidente, cujo resultado final foi praticamente um 50/50, fosse uma pesquisa eleitoral, a pequena diferença entre os candidatos seria considerada empate técnico. Era de se esperar que houvesse algum impacto de curto prazo no mercado financeiro após o encerramento do pleito.
Nos meses anteriores, os investidores haviam colocado um pé atrás, senão os dois pés. A forte polarização, com abordagens bastante diferentes entre as chapas no campo econômico, reforçaram o sentimento de incerteza, que puxou para baixo o preço dos ativos, desenhando um cenário de cautela.
Assim como falamos no artigo da semana passada, era esperado que as ações de alguns setores específicos reagissem bem à vitória do candidato de esquerda, o que o mercado chamou esta semana de “kit Lula”: varejo, alimentação, construção civil e educação foram algumas delas. Outras ações sofreram uma queda expressiva, como foi o caso das estatais Petrobras e Banco do Brasil.
Ao mesmo tempo, o dólar caiu consistentemente nos primeiros dias pós-pleito, e isso surpreendeu o mercado. O dólar pode ser considerado, em algumas circunstâncias, um termômetro de risco do país para o curto prazo, por refletir em parte o volume de saída de moeda estrangeira.
Era esperado que o dólar pudesse espelhar o medo dos investidores com a entrada do PT no poder, vide o que aconteceu com a expressiva alta na cotação da moeda americana na primeira eleição de Lula em 2002. Porém, o que vimos esta semana foi fluxo positivo de dólares por parte de investidores internacionais que antes estavam “no escuro” acerca de qual seria o próximo Governo, e agora puderam realizar posicionamento de acordo com o novo cenário, comprando ações aderentes com as políticas públicas esperadas para os próximos 4 anos.
O Ibovespa, por sua vez, ficou praticamente de lado. Para aqueles que esperavam que a Bolsa despencasse com a entrada da esquerda no poder, cabe lembrar de um fato importante: a Bolsa já está muito barata. Historicamente, a avaliação do Ibovespa em função do índice de Preço/Lucro indica um dos menores patamares dos últimos tempos. Portanto, o cenário de incerteza já havia precificado uma Bolsa depreciada, e quanto a isso nada mudou.
Há muito potencial para alta do Ibovespa, mas o mercado ainda se ressente de maior confiança para avançar.
Por outro lado, era previsto que o novo Governo se sentiria “sufocado” pelo orçamento do próximo ano, já que as promessas de campanha não se encaixavam no teto de gastos.
O primeiro passo da equipe de transição foi propor uma PEC que rompa o teto do ano que vem para incluir o Auxílio Brasil de R$ 600,00 com R$ 150 reais para famílias com crianças até 6 anos, a isenção de Imposto de Renda Pessoa Física até 5 mil reais de renda mensal e o aumento real de salário mínimo, sendo chamada de PEC de Transição.
Orçamento é cobertor curto, e é impossível atender a todas as necessidades da população. No entanto, romper o teto era uma promessa de campanha de Lula, e se tornou objetivo de primeira hora da equipe de transição — o que não é saudável, já que gastos maiores sem aumento de receita geram mais dívida.
Os desafios para o próximo Governo serão muitos, a começar pela dificuldade de implantar suas políticas de governo com um orçamento limitado. Também terá que lidar com um Congresso eleito que está mais à direita e com oposição de praticamente metade dos eleitores brasileiros. Enquanto isso, o mercado segue em compasso de espera.
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