Poucas pessoas sabem, mas a crise do subprime em 2008, quando quebrou o enorme banco Lehman Brothers, também teve entre suas causas o movimento dos juros básicos americanos, que foram a quase zero e depois subiram a elevadíssimos 5,5%, estourando, dessa forma, a bolha imobiliária que se formou nos anos de taxas baixas.
Por lá, política monetária é coisa séria porque a taxa básica de juros dos EUA tem um grande poder sobre a economia. Quando os juros americanos são elevados, isso afeta desde o grande investidor até o orçamento das famílias mais humildes, com muito mais força de transmissão do que no Brasil.
É isso que vem acontecendo agora, em um momento em que a inflação está alta no mundo todo, ainda sob os efeitos da pandemia e da guerra. Para combater a inflação, o FED (Federal Reserve, o Banco Central americano) está aumentando os juros. A perspectiva é que a taxa básica encerre o ciclo em cerca de 4% a 4,5%, um patamar alto para os padrões americanos.
O aumento dos juros nos EUA, no âmbito doméstico, aumenta a prestação da hipoteca imobiliária, encarece os custos de financiamento de carros, pressiona os juros bancários e desacelera o investimento, consequentemente esfriando um pouco a aquecidíssima demanda de mão de obra por lá.
Já no mercado internacional, existe um efeito colateral e nem sempre desejado: os EUA passam a atrair o capital internacional com mais força, e os doadores desse capital também incluem os países emergentes como o Brasil. Com juros mais atrativos e sendo a maior economia do mundo, o magnetismo que os títulos do Tesouro americano exercem é irresistível.
Durante a pandemia, a nossa meta Selic foi colocada em patamar extremamente baixo, um recorde histórico, a 2% ao ano, com a finalidade de combater a parada brusca na economia no primeiro semestre de 2020. Com isso, a atratividade dos títulos públicos brasileiros ficou bem mais baixa para os investidores internos e externos, que dessa forma tinham incentivo para enviar os seus recursos para o exterior.
Também foi forte o movimento das empresas de contrair dívidas em moeda brasileira, quitando dívidas em dólar. Esse fluxo levou o dólar a subir para patamar próximo de R$ 6,00, o que ajudou a pressionar a inflação brasileira.
Hoje, estamos no fim de um ciclo de alta da Selic, iniciado precocemente em relação a outros países. Como nossa taxa começou a subir antes, recebemos fluxo externo de curto prazo no início desse ciclo, que fez com que o dólar caísse para algo em torno de R$ 4,85. Agora que estamos com uma Selic mais alta, de 13,75% ao ano, os juros americanos vem subindo e “concorrendo” de forma mais agressiva conosco.
O movimento de alta ou baixa do dólar sempre tem diversas motivações, incluindo o risco Brasil, a política interna, o sentimento do mercado internacional, a oferta ou escassez de liquidez no mundo, mas também sofre a forte influência de curto prazo ocasionada pela relação entre os juros brasileiros e os juros americanos.
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Se a taxa estiver alta por lá, se torna mais difícil para o nosso Banco Central baixar a Selic. Mesmo que os indicadores de inflação do Brasil permitam, um movimento muito ousado de baixa na nossa taxa básica pode novamente elevar a cotação do dólar, o que por sua vez pode trazer mais inflação interna.
Se o movimento do dólar for de curtíssimo prazo, os efeitos inflacionários serão limitados. Caso a alta persista por mais tempo, o risco é de que esse efeito contamine a paridade de compra entre o Brasil e os Estados Unidos para o médio e longo prazo, tornando-se permanente.
Com a pressão dos juros americanos sobre os juros brasileiros, poderemos sentir os efeitos dos juros altos por mais tempo, com desaceleração na nossa economia, afetando o Ibovespa, encarecendo os empréstimos e desincentivando os projetos de investimento.
Outro efeito negativo, e não menos importante, é o impacto sobre os custos de carregamento da enorme dívida pública brasileira. Com Selic mais alta, a despesa de juros do Governo aumenta de forma significativa, uma conta que vamos ter que pagar em algum momento.
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