Auditoria completa por empresa reconhecida, listagem em Bolsa, governança corporativa, Conselho de Administração, executivos contratados a peso de ouro, balanço publicado para todo o mercado, sócios relevantes, marca forte, enorme presença física e digital, bom Rating (medida de risco pelas empresas de avaliação), elevado volume de vendas, grande diversidade de produtos e fornecedores, acesso a crédito barato nos Bancos, verba de marketing milionária (incluindo o patrocínio master do Big Brother Brasil) e milhões de investidores que detinham ações ou títulos de renda fixa da Americanas S.A, incluindo os grandes bancos e gestoras de fundos.
Nada disso foi capaz de impedir que ocorresse aquele que já é um dos casos mais emblemáticos de incorreção — pra ser um tanto suave — no balanço e na contabilidade de uma grande empresa brasileira. Uma situação que, preliminarmente, pode levar a Americanas a contabilizar uma dívida adicional de R$ 20 bilhões, maior que o seu patrimônio líquido. E, se isso for verdade, a empresa estará quebrada, precisando de injeção de capital.
Se alguém disser que sabe ao certo o que aconteceu, você ainda pode duvidar. Nem o ex-CEO Sérgio Rial, em quem o mercado ainda coloca muita confiança e que ficou apenas nove dias na empresa, tinha certeza dos números. Na entrevista que concedeu na manhã do dia 12 de janeiro, Rial disse que havia problemas na contabilização das dívidas da empresa e que o valor não contabilizado poderia chegar a R$ 20 bilhões. Uma auditoria foi contratada para esmiuçar os dados e trazer uma conclusão ao mercado.
A fase seguinte foi o início da negociação entre os principais acionistas e os bancos, questão que já foi rapidamente judicializada. Os acionistas querem colocar menos dinheiro, e os bancos querem receber o seu antes. É briga de gente grande.
No meio desse tumulto, milhares de investidores que tinham ações das Americanas viram as cotações desabarem. Quem compra ações em Bolsa deveria saber desse risco.
Mas o pior ainda estava por vir. Outros milhares (senão milhões) de investidores detêm, direta ou indiretamente, títulos de renda fixa da empresa, que poderiam ser considerados seguros, e agora estão vendo os títulos perderem valor e impactarem investimentos classificados como conservadores, como fundos de Renda Fixa Previdenciários e Fundos DI.
Vamos falar a verdade. Em se tratando de uma empresa grande e robusta, que deveria ter elevadíssimos níveis de controles internos e auditoria, é incrível que ninguém tenha percebido o problema antes. Se os grandes bancos e gestoras não estavam cientes, quem dirá o pequeno investidor, que vê tudo de fora, confiando nas informações que chegam até ele.
Lelio Monteiro
Administrador de empresas
"Por isso, só existe uma arma que o investidor pessoa física precisa usar sem a menor parcimônia. É a diversificação. Nunca, escute bem, nunca concentre demais os seus investimentos."
Existem níveis adequados para concentrar mais ou menos, é só lembrar quantas pessoas estão 100% alocadas na poupança (risco do Banco e não do Governo) ou em títulos públicos federais. Não deixa de ser uma alocação concentrada e que tem um risco específico, apesar de aqui estarmos falando de emissores muito confiáveis, ao menos por enquanto.
No entanto, quando se fala de ativos de diferentes graus de risco, como ações, fundos imobiliários, fundos de investimentos arrojados e títulos de renda fixa privada, a diversificacão é o Santo Graal dos investimentos. É a regra inicial e primária, a condição máxima de sobrevivência do investidor arrojado, e a melhor forma de se incluir risco na carteira.
Pense em quem porventura tenha concentrado seus investimentos em ações da Americanas ou títulos de renda fixa da empresa. Agora imagine um investidor que tenha exposição à empresa, mas em percentual baixo dentro de uma carteira diversificada. São situações completamente diferentes. Escolha a opção certa.
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