Em Dezembro de 2021 foi efetivado o IPO (Initial Public Offer, ou Oferta Inicial de Ações) do Nubank, fintech brasileira do “cartão roxinho”, que se tornou bastante popular por oferecer soluções de banking digital com conta e cartão gratuitos. Essa abertura de capital foi bastante ruidosa por alguns motivos.
Trata-se de uma empresa bastante conhecida e popular, com uma curva de crescimento de clientes bastante elevada, cuja ação foi duplamente listada (Estados Unidos e Brasil), tendo o Nubank oferecido aos seus clientes ações, na forma de BDRs (recibos da ação originalmente listada nos Estados Unidos), com a ideia de que os seus clientes seriam seus sócios, e incentivando as pessoas a abrirem sua conta para receberem seu “pedacinho” de ação.
Desde então, o desempenho das ações não foi bom, caindo cerca de 50% desde o início da negociação em bolsa. No 2° trimestre de 2022 a empresa teve um lucro ajustado de 17 milhões de dólares, apesar de ter havido um prejuízo contábil de 29,9 milhões de dólares. A expectativa de que a empresa consolide lucros mais consistentes e sustentáveis, que acompanhem o grande crescimento da base de clientes, está no centro das preocupações do mercado.
Há poucos dias, o Nubank anunciou que deixará de ser listado como companhia aberta no Brasil, eliminando a dupla listagem. Sendo agora listada apenas em Nova Iorque, e as BDRs negociadas aqui no Brasil cairão de nível (de III para I). Os custos de dupla listagem são mais altos para a empresa, e a liquidez dos papéis na Bolsa brasileira ainda não se tornou relevante, deixando de justificar a existência da BDR de nível mais alto.
Sendo assim, o investidor que possui BDRs do Nubank, incluindo os clientes que receberam “pedacinhos” por terem conta na instituição, terão que fazer uma escolha entre 3 opções: vender os BDRs, ficar com os BDRs e aceitar a mudança do nível III para o nível I (o que não ajuda a liquidez dos papéis em Bolsa) ou pedir a conversão dos BDRs disponíveis para negociação no Brasil por ações listadas em Nova Iorque. Essa última opção é inviável para a maioria das pessoas que não possui conta no exterior, lembrando que milhões de clientes receberam seus “pedacinhos” no Brasil, muitos deles se tornando acionistas de uma empresa pela primeira vez.
Cabe ainda lembrar que as ações recebidas pelos clientes do Nubank tem prazo de indisponibilidade para venda no mercado, de 12 meses. Portanto, muitos investidores não podem se desfazer, por hora, das BDRs que receberam. A orientação dada pelo Nubank é para que os investidores aguardem até que sejam divulgadas as regras do processo.
O caso do Nubank mostra que pode existir um risco adicional em comprar ações em ofertas iniciais de ações (IPO). Avaliar o preço de uma empresa, no processo chamado de valuation, é uma análise complexa que utiliza diversas metodologias. Algumas das mais conhecidas utilizam o lucro da empresa e/ou a expectativa de dividendos a serem distribuídos e a projeção de crescimento para os próximos anos.
Quando se avalia uma empresa mais jovem, que ainda tem um lucro modesto, mas que pode ter um grande potencial, a conta não só fica mais difícil, como também entram fatores subjetivos que procuram entender e precificar as chances de sucesso. A volatilidade se torna maior neste caso, e apesar de haver chance de ganhos robustos, a possibilidade de perda também é mais presente.
O importante que o investidor saiba analisar cada oportunidade e cada ativo a ser adquirido com um entendimento realista acerca daquilo que é esperado para o papel, especialmente no caso de um IPOs.
A retirada do Nubank como empresa listada no Brasil não deixa de demonstrar como as coisas não saíram exatamente como o planejado no que se refere ao ambiente de negociação das suas ações, e acaba criando uma certa apreensão nos investidores sobre o que vai acontecer daqui para a frente.
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