Desde que estivemos tanto tempo com uma meta Selic de 2% a.a., um recorde de baixa, a inflação acelerou fortemente. É preciso lembrar que desde o início da pandemia navegamos em mares desconhecidos no campo econômico. Na história recente da humanidade, não havíamos tido um evento tão agudo de interrupção da mobilidade e consequentemente do trabalho e da produção de bens e serviços, em um mundo amplamente conectado e globalizado.
Naquele momento, do início da pandemia, havia muita apreensão e diversas projeções sobre o que aconteceria. O consenso era de que a economia despencaria, o desemprego explodiria e o efeito disso seria desinflacionário. Assim, a demanda por bens e serviços cairia fortemente e isso faria os preços cederem.
No entanto, após um momento de interrupção muito forte nas vendas de produtos e serviços, a demanda voltou com tudo. Por outro lado, a oferta estava literalmente quebrada, em diversos pontos da cadeia produtiva. Após um 2020 de queda na atividade econômica, o ano de 2021 foi de recuperação na maioria dos países, incluindo o Brasil.
Desde então, a economia mundial vem crescendo e se ajustando de uma forma diferente, com uma assimetria muito forte e falta de diversos insumos e produtos, levando o fenômeno inflacionário a se espalhar pelo mundo, incluindo os países desenvolvidos.
Com mudanças tão profundas e drásticas que as circunstâncias da pandemia nos trouxeram, os ajustes que o mercado acaba fazendo mexem com os preços, mas não para baixo, sempre para cima, gerando inflação. Nenhum Banco Central no mundo, incluindo os mais importantes, sabia exatamente o que fazer — e de certa forma ainda não se sabe.
O primeiro movimento foi de diminuir taxa de juros, e agora é de subir. Com esse último movimento vem o receio de que a economia mundial não resista a juros altos e comece a patinar.
Hoje, a inflação que nos assola no Brasil é em grande parte importada, ou seja, não possui origem interna. O Banco Central do Brasil precisava agir de qualquer forma, porque não poderíamos estar com inflação de 2 dígitos e uma taxa Selic tão baixa. Precisávamos voltar a ter juros reais — ou seja, uma taxa básica de juros acima da inflação esperada — a fim de que a inflação “importada” não contamine ainda mais a nossa inflação interna, e faça com que a escalada inflacionária se torne permanente. Vide a situação da nossa vizinha Argentina que caminha para o total descontrole.
Talvez exista pouca coisa que o Banco Central possa fazer para controlar efetivamente a inflação no curto prazo, pois ela está ligada a fatores externos. Em outras palavras, não é a Selic que fará a inflação cair, mas sim o aumento da oferta frente a demanda e o controle da base monetária com responsabilidade fiscal. A Selic, neste caso, precisa estar no lugar certo, para não gerar um problema maior. É esse ajuste que o Banco Central vem fazendo, e que pode ter chegado ao fim, com uma porta aberta para que haja um último ajuste de 25 pontos.
Agora, precisamos acompanhar para que lado a inflação vai e começar a fazer contas de quando a Selic volta a cair. Da mesma forma que houve uma surpresa quando os preços dispararam, ainda estamos em território razoavelmente desconhecido. Se a inflação ceder, a tendência é que o ajuste para baixo na nossa taxa básica não demore a acontecer.
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