É assessor de investimentos da Valor/XP Investimentos. É mestre em Direito e professor de pós-graduação.

As lições da DeepSeek para o bom investidor

Chegada de aplicativo chinês fez ações de big techs despencarem; pânico no mercado pode ensinar investidores a protegerem seu patrimônio

A semana começou agitada nos mercados globais. O motivo? Uma notícia vinda do outro lado do mundo, de que a China poderá desbancar os EUA no desenvolvimento de inteligência artificial. No caso, a DeepSeek — startup chinesa até então desconhecida — entregaria resultados melhores que suas rivais americanas.

Como num passe de mágica, todas as certezas de analistas de mercado sobre as “queridinhas” da inteligência artificial evaporaram, com pânico geral e queda generalizada do setor, afetando a Microsoft, Alphabet (dona do Google), Tesla e, em especial, a Nvidia, que, somente na segunda-feira (27), perdeu US$ 589 bilhões em valor de mercado.

O caso serve de exemplo para trazer à baila algumas lições básicas de educação financeira, mas tantas vezes negligenciadas. Afinal, o que se pode fazer para que o investidor esteja a salvo desses movimentos bruscos de mercado, capazes de afetar substancialmente seu patrimônio?

John C. Bogle, fundador da maior gestora de fundos de investimento do mundo — o Vanguard Group — e eleito uma das 100 pessoas mais influentes do planeta pela revista Time em 2004, dá a primeira lição: 

John C. Bogle

"O investidor de bom senso. A melhor maneira de garantir um bom desempenho no mercado de ações”. Rio: Sextante, 2020, p. 10

"Investir a longo prazo é bem melhor para você do que a especulação de curto prazo"

A dificuldade de se colocar isso em prática é que, para a maioria, investir no longo prazo costuma ser uma atividade sistemática, enfadonha e sem emoção, exigindo-se paciência que muitos não possuem. Se o resultado costuma ser bom, o discurso não é sedutor e repele todos os que insistem na ideia que podem ganhar muito com pouco esforço e no menor espaço de tempo possível, algo que rotineiramente dá errado.

Outra ideia básica diz respeito à ganância. É muito difícil, até mesmo contra intuitivo, sair de uma operação enquanto ela dá lucro. Porém, Max Gunther, graduado em Princeton e filho de um banqueiro suíço, defende que ela — a ganância — é uma das principais inimigas dos bons resultados financeiros, simplesmente porque as pessoas, quando estão ganhando, querem sempre mais, a ponto de acreditarem que o mercado nunca se voltará contra elas ou que algo poderá dar errado.

Por isso, “quando estiver com um bom lucro, caia fora. A longo prazo, o controle da ganância dá mais dinheiro” (“Os axiomas de Zurique”. Rio: Best Business, 2019). Quer dizer, para obter retornos consistentes no mercado, contente-se com lucros um pouco menores, porém mais frequentes que as perdas motivadas pela permanência demasiada num mesmo ativo.

Igualmente, se a diversificação é uma outra regra básica em investimentos, é muito comum verem-se ativos “da moda” no mercado. Ninguém quer perder aquela oportunidade da qual todos estão falando. No fim, muitos acabam “apostando tudo” ali, o que potencializa os riscos. Mas, tal como defende André Jakurski — um dos fundadores do banco Pactual —, “para acumular capital ao longo do tempo, não se deve ficar pulando de investimento em investimento atrás de uma grande tacada”, mas sim dividir os recursos entre aplicações com maior e menor risco (“Fora da curva. Os segredos dos grandes investidores do Brasil – e o que você pode aprender com eles”. São Paulo: Portfolio Penguin, 2016, p. 33).

Por mais rentável que pareça uma oportunidade, a exposição ao risco maior deve ser combinada com ativos mais conservadores e tradicionais, capazes de manter certa estabilidade do portfólio. No Brasil, por sinal, isso é ainda mais elementar, em especial em ciclos de alta de Selic (ontem o Banco Central aumentou a taxa para 13,25% ao ano).

Por fim, se o futuro é incerto, previsões sobre possíveis resultados vindouros de investimentos devem ser interpretadas sempre com cautela e bom senso. Como disse Décio Bazin, “crashes ocorrem quando as pessoas mais acreditam na invulnerabilidade do mercado. É ilusão. Neste mundo, nada é invulnerável” (“Faça fortuna com ações”. São Paulo: CLA, 2017, p. 154). Questione e mantenha o senso crítico sobre o que ouvir de “especialistas”, principalmente os que indiquem este ou aquele investimento de ganho certo ou capaz de lhe enriquecer rapidamente. Em outras palavras, olhar atento, cautela e caldo de galinha fazem bem para todos e especialmente para o bolso!

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