No artigo em que tratamos da alta histórica da Bolsa, falamos sobre as dúvidas sobre quanto tempo permaneceria a tendência de alta e os benefícios de se possuir uma carteira de investimentos com alocação estrutural e longe da euforia do mercado, a fim de proteger o investidor de seu próprio ímpeto de agir no calor da emoção e perder a racionalidade nas suas decisões financeiras.
Por coincidência, desde a publicação do texto, no último 29 de agosto, a Bolsa vem fazendo novas mínimas que acumulam pouco mais de 4% de queda desde a máxima histórica de 28 de agosto, quando o Ibovespa marcou seu topo aos 137.469 pontos, até o pregão de 25 de setembro, quando fechou aos 131.586.
Neste meio tempo, ainda tivemos dois eventos relevantes e capazes de impactar a renda variável futuramente: o aumento dos juros no Brasil em 0,25%, com a Selic indo de 10,50% para 10,75% ao ano e a queda dos juros americanos, com corte de 0,5%.
Então, de que modo podemos avaliar o momento e revisar alocações em renda variável?
Exatamente pela ideia que a alocação estrutural é a chave para evitar decisões abruptas e sem a devida racionalidade, estar fora desse mercado não parece ser a melhor alternativa (considerando-se que o investidor possua o perfil para exposição de seu portfólio à renda variável). Como não há um gatilho exato para se retomar a alta no mercado de ações, estar posicionado estruturalmente é a garantia de aproveitar o movimento quando ele acontece de fato.
Todavia, a inflexão da curva de juros no Brasil, para um contexto de taxas mais elevadas por mais tempo, induz a um posicionamento em ações com uma abordagem cautelosa, a fim de reduzir a volatilidade através da exposição em setores mais resilientes e com alta geração de valor.
Essa é a visão, por exemplo, do BTG Pactual. Em relatório de 20 de setembro de 2024, sua área de Global Research defende que o foco do portfólio de ações, em cenário de juros altos e possibilidade de sell off do Ibovespa, pode ser em empresas que oferecem forte geração de caixa e pagamentos consistentes de dividendos, nos tradicionais setores de telecomunicações, energia e financeiro. Companhias nesses segmentos costumam ser mais estáveis e menos sensíveis às oscilações de mercado, dado a seu fluxo de caixa previsível e consolidado.
Tenha, por exemplo, uma empresa transmissora de energia elétrica. Com juros altos ou baixos, bolsa caindo ou subindo, a geração de valor por seus serviços tende à estabilidade, pois o consumo de energia é constante (ainda que varie um pouco conforme certas circunstâncias). Logo, este tipo de empresa costuma entregar resultados mais previsíveis, o que reflete em menor volatilidade do preço de suas ações negociadas na bolsa.
Caso o investidor não queira ou não possa escolher empresas específicas, uma boa alternativa para se expor ao mercado é através de fundos de ações com foco em dividendos. Exatamente por investirem nestes segmentos mais resilientes, estes fundos tendem a amortecer os movimentos mais bruscos do mercado de ações em geral.
E ainda que possam entregar, na média, resultados abaixo de seus índices de referência (por exemplo, o Ibovespa) nos períodos de alta (upside), espera-se que nos períodos de baixa (downside) suas estratégias protejam o patrimônio dos investidores para que eventuais perdas sejam menores que a média do mercado em geral, tornando a exposição ao mercado acionário mais defensiva.
De qualquer maneira, sempre há espaço para uma ponderação mais profunda sobre seu real perfil de investidor. Se em rally de alta a bolsa atrai eventualmente até os conservadores, dado o otimismo que lhe é adjacente, os movimentos baixistas costumam ser um bom teste para revelar o verdadeiro perfil dos ditos “arrojados”, que deveriam ficar confortáveis na volatilidade negativa. Os dias atuais prenunciam um bom tempo para essa reflexão.
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