É assessor de investimentos da Valor/XP Investimentos. É mestre em Direito e professor de pós-graduação.

Fuja de gurus e previsões: a dúvida deve ser aliada de todo investidor

O sobe e desce das bolsas nos últimos dias mostra que mercados são dinâmicos e exigem atenção conforme os acontecimentos reais, não com futurologia e certezas

Os últimos dias têm sido intensos no tabuleiro político e econômico global. A Terra tremeu com o recente anúncio do “tarifaço” americano e sobraram analistas de mercado, acadêmicos, governos e empresários fazendo inúmeras previsões de uma nova crise, de proporções monumentais. Bolsas afundaram e dólar entrou em disparada, numa volatilidade que há muito não se via. Tudo apontava para um completo desastre, até que, na tarde de quarta-feira (9), os mercados viraram ao avesso novamente, agora para o campo positivo, logo após o anúncio do adiamento das medidas restritivas americanas ao comércio global.

Esse sobe e desce repentino traz à baila uma questão óbvia, porém muitas vezes negligenciada em negócios e mercados em geral. Se ninguém é capaz de enxergar o futuro, como acreditar em previsões categóricas sobre o comportamento de um ativo ou um mercado qualquer? Parece inequívoco que a dúvida deveria ser a companheira de todo investidor de bom senso, mas crer em cenários paradisíacos, onde certezas, rentabilidade alta e risco baixo caminham de mãos dadas, muitas vezes acaba sendo o sonho dourado de muitos.

A proposta é sempre tentadora. Com poucos cliques na internet já aparecem as “oportunidades da década”, fórmulas para enriquecer rapidamente e lições afins. A metodologia é similar: elegem-se ativos, ações, fundos e investimentos que vão “bombar” em breve... é ver para crer! Pois muitos caem nessa e perdem dinheiro.

Para Morgan Housel, “somos muito bons em prever o futuro, exceto pelas surpresas — que tendem a ser tudo o que importa” ("O mesmo de sempre. Um guia para o que não muda nunca". Rio: Objetiva, 2023, p. 28). Mas, se as pessoas são péssimas em prever o que vem pela frente, por que alguém acreditaria piamente nas previsões e certezas vendidas no mercado?

Talvez a resposta resida no fato de que investigar melhor aquilo que é apregoado como líquido e certo é trabalhoso e “custa caro” para o cérebro, que precisa de mais energia para manter aceso o seu senso crítico. É mais fácil “acreditar” no que gostaríamos que fosse verdade, ainda que o óbvio indique exatamente o contrário, na teoria de Daniel Kahneman ("Rápido e devagar. Duas formas de pensar". Rio: Objetiva, 2012).

Então, se investir cegamente em “certezas” de mercado não parece a melhor escolha, experimente investir na dúvida, para questionar, esquadrinhar e aprimorar o conhecimento sobre o que se pretende comprar.

Mesmo assim, vale lembrar que os efeitos das decisões financeiras são prospectivos, ou seja, só o tempo mostrará quão acertada foi a estratégia de negócios. Além de ser inútil tentar adivinhar hoje o que vai acontecer amanhã, tudo que não precisamos ter são certezas antes da hora. Tal como a vida, mercados são dinâmicos e exigem atenção conforme os acontecimentos reais e não com futurologia. Um olho no peixe, outro no gato!

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