É assessor de investimentos da Valor/XP Investimentos. É mestre em Direito e professor de pós-graduação.

Ibovespa nas máximas: ainda é possível aproveitar o movimento?

Em tempos de índices lá em cima, surgem dúvidas sobre a solidez da tendência, por quanto tempo a Bolsa permanecerá em alta e quais ações comprar

Vitória
Publicado em 29/08/2024 às 09h18
Ibovespa - Bolsa de Valores
Painel da Ibovespa . Crédito: B3/Divulgação

Nos últimos dias, o Ibovespa vem atingindo recordes históricos em reais. Depois de um primeiro semestre de quedas sucessivas, desde meados de junho o índice apontou para cima, com alta de aproximadamente 15% e avançando sobre os 137.000 pontos. Nesses momentos, é comum surgirem dúvidas sobre a solidez da tendência, por quanto tempo a Bolsa permanecerá em alta e quais ações comprar.

Certamente, tais respostas valem dinheiro. Mas, à exceção dos vendedores de sonhos e fórmulas mágicas que raramente dão resultados consistentes no mercado, ninguém é capaz de prever com exatidão os pontos de inflexão de linhas de tendência de preços, muitas vezes influenciados por fatores externos ao próprio mercado, imprevisíveis ou repentinos.

Mas os riscos associados à renda variável são exatamente aqueles que podem alavancar os ganhos, razão pela qual a curiosidade e o interesse de investidores costumam ser proporcionais aos movimentos da Bolsa.

E, justo por essa imprevisibilidade, estudos indicam que investidores que esperam capturar a volatilidade a partir do instante em que se percebe o início de uma tendência de alta costumam ter resultados em sentido inverso ao esperado. Comprar na baixa e vender na alta pode ser um conceito trivial, mas, na prática, há quem compre apenas na alta e venda sempre na baixa, justo pela dificuldade de acertar o momento exato de aproveitar o início de uma tendência até o seu final. Em outras palavras, esses investidores estão sempre correndo atrás — literalmente — do mercado que está sempre à frente deles.

Num estudo que levou aproximadamente 10 anos, Brinson, Hood e Beebower concluíram que se deram melhor os investidores que não buscaram acertar na mosca na hora de alocar seus recursos no mercado financeiro, mas que optaram por uma carteira estruturada de acordo com seus perfis e livre de interferências momentâneas de mercado (se os preços estão altos ou baixos, eventualmente). Por exemplo, um investidor com apetite para ações, mas que as limita em 20% de seu portfólio e se mantém firme em seu modelo de alocação ainda que a bolsa suba ou caia.

Para esses mesmos autores, o timing — muitas vezes apregoado como o fator fundamental para se obter o melhor resultado das operações — não é responsável por mais que 1,8% do sucesso das carteiras:

Outro estudo, divulgado pela Vanguard (uma das maiores gestoras de ETFs do mundo), indicou resultados similares, no sentido que a alocação estrutural da carteira, longe de ajustes casuísticos que tentam capturar uma movimentação repentina, é o que determinou o sucesso do investidor de longo prazo.

Então, para investidores com apetite e perfil para renda variável, em especial a Bolsa brasileira, é o caso de se repensar os modelos ilusórios de se encontrar o “ativo da década” ou fórmulas milagrosas de se ganhar dinheiro. Valer-se de uma alocação estrutural montada longe das emoções do sobe e desce da Bolsa poderá, de fato, fazer a diferença de modo consistente ao longo do tempo.

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