Descobrir que está perdendo dinheiro não é bom, mas insistir no erro parece pior. Em meu último artigo, comentei sobre travas emocionais criadas pelos próprios investidores que os impedem de promover mudanças necessárias no portfólio.
Uma das barreiras mais comuns é o apego ao passado. Experiências anteriores em matéria financeira que tenham sido fonte de alegria ou de sofrimento acabam ressoando no presente, induzindo o investidor a repetir a fórmula do sucesso ou evitar o que deu errado no passado. Embora a experiência pretérita seja algo a considerar, em matéria de mercado ela pode atrapalhar mais ou ajudar menos.
Estudos mostram que gerações que chegaram à vida adulta com experiências positivas em determinado investimento tendem a se enraizar na mesma estratégia e rejeitar inovações. Afinal, time que está ganhando não se mexe e, se já deu certo um dia, por que agora seria diferente? Por exemplo, se nas primeiras experiências com investimentos a pessoa tiver tido sucesso com imóveis, possivelmente tentará repetir a estratégia indefinidamente. Ao revés, se teve insucesso com ações, é bem provável que rejeitará alocações em renda variável, por achar que “não dá sorte” com esse mercado.
Mas a tônica dos mercados não necessariamente respeitará o passado. Ao contrário, sua dinâmica é desafiadora a ponto de testar pessoas até o limite, desafiando-as a manter seus padrões ao mesmo tempo em que ele – mercado – não respeita nenhum. Ações, imóveis, renda fixa. Todas as opções têm seus ciclos e momentos mais ou menos propícios para retornos.
Então, o investidor que repele a revisão desses conceitos de onde se encontra mais ou menos sucesso (ou sorte, a depender do ponto de vista), acaba deixando de extrair do mercado aquilo que ele oferece num dado momento. Se o mercado de ações não estava bom há alguns meses, não quer dizer que não entregará resultados em breve; se já teve sucesso com imóveis ou com qualquer outro ativo no passado, não quer dizer que sempre terá.
Isso se dá simplesmente porque o mercado não é como um pêndulo, que sabemos exatamente quando chegará neste ou naquele ponto, numa direção ou em outra. Daí, compete ao bom investidor se atentar não apenas à sua experiência anterior (para o bem ou para o mal), mas, sobretudo, deve despir-se de preconceitos de toda ordem para tentar capturar ao menos uma parte do movimento atual e futuro dos mercados. Qual? O que indicar melhores chances de êxito, independente da experiência anterior.
Se o investidor pode viver de memórias e ter uma história muito boa para contar sobre o passado, o mercado prefere números e resultados. Aproveitar os ensinamentos anteriores, tornar-se mais experiente e pronto para desafios terá sempre seu valor, mas estar aberto ao novo e livre das amarras e dos conceitos criados em outros tempos também pode ser o passaporte para experiências recompensadoras, dentro e fora do mundo das finanças.
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