Escrevo este artigo na sexta-feira (29/12). Hoje, é o último pregão do ano de 2022. Sendo assim, vamos supor que o Ibovespa encerre os negócios de forma estável. Se isso se confirmar, o principal indicador do mercado acionário brasileiro terá registrado um ganho de 5,2% no ano de 2022. Olhando apenas esse número, parece um desempenho fraco. Contudo, nada mais distante do que a realidade.
O ano que se encerra foi um divisor de águas em, pelo menos, dois pontos relevantes:
O primeiro, tange aos movimentos dos bancos centrais que, em mais de três décadas, optaram por contrair a política monetária em vez de simplesmente deixar que os aumentos de produtividade reduzissem os custos estruturais da economia e baixassem a inflação. Esse foi o comportamento praticamente uniforme das autoridades monetárias desde os anos 1990. E isso deixou os investidores mal-acostumados.
Qualquer crise era, de um modo ou de outro, um ponto de compra. Bastava comprar e ter paciência, e o tempo faria qualquer aposta render mais que os juros referenciais. Isso acabou e as coisas voltaram ao “normal”. Ou, melhor dizendo, ao que valeu durante todo o século passado.
Não há garantias de que uma determinada ação sempre vá superar os ganhos da renda fixa. Ao contrário, em situações de capital mais escasso e caro, apenas bons gestores e bons modelos de negócio vão recompensar o investidor.
O segundo motivo é um drástico retrocesso na globalização. Ou, dito de outra forma, a volta das nações como entidades políticas e militares. A invasão russa à Ucrânia, que começou como uma campanha relâmpago em março e agora se arrasta por quase um ano, foi a primeira ofensiva militar na Europa desde 1945.
Nos últimos 77 anos, guerras foram assuntos de cantos remotos do mundo. E do outro lado da Ásia, o governo em Pequim vem elevando sistematicamente o tom com relação a Taiwan. Ainda não há nenhuma indicação de que o endurecimento da retórica possa levar à guerra.
O assunto aqui é econômico, não militar. Mesmo assim, a ofensiva russa foi acompanhada de sanções econômicas, que vão além das fronteiras da Rússia e passam pelo mercado global de petróleo. Ou seja, guerra faz preço no mercado e vai continuar fazendo.
Por tudo isso, o ano de 2022 será lembrado como um período difícil. A notícia boa é que, o pouco de uma possível melhora desse cenário, será importante para mitigar os solavancos em 2023.
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