É sócio e assessor da Valor Investimentos. É engenheiro ambiental e pós-graduado em Controladoria e Finanças pela Fucape

A 'jabuticaba' da economia: um pouco mais sobre a taxa de juros no Brasil

Assim como essa fruta, cuja colheita ocorre entre agosto e novembro, é preciso saber aproveitar os momentos proporcionados pela nossa elevada taxa de juros

Vitória
Publicado em 03/10/2024 às 08h35

O Brasil possui uma das maiores taxas de juros do mundo, fato que chama a atenção de investidores e especialistas em economia. A taxa básica de juros, a Selic, é influenciada por uma série de condições, que incluem a taxa de juros americana (considerada a referência mundial), o risco de crédito (a possibilidade de o Brasil não honrar sua dívida), a inflação esperada e o cenário fiscal do país, tema que já abordei anteriormente.

Dada a combinação desses fatores, é fácil entender por que a Selic permanece alta. Fatores estruturais, como a elevada dívida pública, a instabilidade política e a inflação persistente, contribuem para esse cenário. A nossa situação é quase tão única quanto a jabuticaba, fruta tipicamente brasileira, que, assim como nossa taxa de juros, se destaca pela exclusividade no cenário mundial.

Assim como essa fruta apreciada, cuja colheita ocorre entre agosto e novembro, é preciso saber aproveitar os momentos proporcionados pela nossa elevada taxa de juros. Quando investidores me procuram para entender mais sobre cenário político e econômico atual, costumo dizer que este pode ser um excelente momento para quem investe em renda fixa e alguns outros ativos que se encontram descontados, com elevadas taxas internas de retorno.

Com a Selic alta, investimentos pós-fixados (atrelados à Selic) e pré-fixados oferecem retornos superiores aos de mercados mais desenvolvidos, onde os juros são mais baixos. Esse cenário é quase que uma peculiaridade do mercado brasileiro, um ciclo difícil de romper.

No entanto, os impactos dos juros altos vão além dos investimentos. Embora sejam atraentes para quem busca retornos em renda fixa, taxas de juros elevadas afetam diretamente a economia real. Elas encarecem o crédito, desestimulam o consumo e os investimentos produtivos, freiam o crescimento econômico e aumentam o desemprego. Com juros altos, o custo de empréstimos para empresas e consumidores cresce, o que reduz a capacidade de investimento das empresas e o consumo das famílias. O resultado é uma economia estagnada, com menos geração de empregos e inovação.

Para quebrar esse ciclo, o Brasil precisa de reformas estruturais que enfrentem a raiz do problema. A reforma tributária e administrativa, o controle das contas públicas e políticas que incentivem a produtividade são alguns dos caminhos que podem reduzir a percepção de risco no país e permitir uma queda gradual dos juros.

Com essas medidas, o Brasil poderá alcançar um ciclo de crescimento econômico sustentável, gerando mais empregos e melhorando a qualidade de vida da população, sem depender exclusivamente da atratividade de investimentos em renda fixa. Dessa forma, a jabuticaba, apesar de sua exclusividade, não será o único atrativo do país. O Brasil precisa de um ambiente econômico mais saudável e equilibrado, que permita o crescimento dos investimentos e o desenvolvimento da economia real.

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