Ph.D em Contabilidade, consultora de empresas em Ciência de Dados e negócios, professora da Fucape Business School, jornalista e comentarista da CBN Vitória

Carteira de investimentos: longo prazo exige manutenção

É preciso rebalancear a carteira de tempos em tempos, ou seja, ajustar os pesos dos ativos no portfólio e trocar ativos se for necessário

Vitória
Publicado em 15/08/2022 às 10h02

Taxas de juros em alta, produtos mais caros, isso no mundo todo. O investidor se pergunta que ativos colocar em sua carteira e por quanto tempo deve mantê-los, de forma a se proteger das oscilações e aumentar as chances de auferir uma renda futura. Escolher o melhor conjunto de ações entre milhares à venda, em diferentes mercados, é difícil. E montar um portfólio de investimentos não pode ser nunca “buy and forget”, mas se o foco é longo prazo, o “buy and hold” funciona bem. Ou seja, é preciso manter o hábito do investimento, mas rebalancear a carteira de tempos em tempos, ou seja, ajustar os pesos dos ativos no portfólio e trocar ativos se for necessário.

Manter o hábito do investimento significa mudança de cultura: primeiro você reserva o que se comprometeu a poupar; e depois usa o excedente para manter suas contas em dia. Disciplina, sobretudo. De posse de um capital inicial, é hora de montar a carteira. Vem o stock picking, técnica de seleção de ativos para compra que estejam sendo negociados abaixo do preço de referência.

Essa referência, na forma mais simples, pode ser obtida via múltiplos, indicadores de performance que sinalizam se um ativo está subprecificado ou sobreprecificado pelo mercado em relação aos seus pares. Se o mercado está pagando pouco pelo ativo, e há fundamentos sólidos de crescimento anunciados pela companhia, é possível que essa companhia seja uma boa alternativa para compra.

Antes de escolher os ativos, pondere risco, retorno e, claro, tempo. Tempo é importantíssimo. Carteiras de longo prazo não devem ser usadas para apagar incêndios, para isso existem as reservas de emergência (tema desta coluna em outros carnavais).

O risco é montar uma carteira de longo prazo e resgatar antes do tempo ideal, realizando prejuízo ou retorno abaixo do CDI no período (o CDI, Depósito Interbancário, é um parâmetro de mercado, uma taxa considerada como sendo a mínima remuneração possível para os investimentos).

Entenda, sobretudo, quanto de risco você tolera. Como você reagiria se comprasse R$ 100 mil da ação A e, após três meses, a ação caísse 80%, restando R$ 20 mil em posição? A maioria dos investidores segue o efeito manada e vende o ativo. As pessoas, em geral, são avessas ao risco, ninguém gosta de instabilidade. Ter R$ 20 mil é melhor do que ter 0 na conta, pensam os impacientes. Porém é possível que essa ação recupere, como já aconteceu em muitas situações na Bolsa. Sangue frio é importante. Se você não é desses, não tolera risco, monte uma carteira com baixa participação de renda variável e ativos solventes de renda fixa.

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Dedo acompanhando indicadores de queda e alta. Crédito: Scott Graham/Unsplash

Não existe uma regra de ouro, mas boa parte das casas de análise e gestores de ativos sugere o rebalanceamento das carteiras, no mínimo, de seis em seis meses. Limites superiores de ganho são determinantes do rebalanceamento, e são baseados no gosto pelo risco do investidor.

Exemplo: você fez a seleção dos ativos, e um deles, o mais arriscado da lista, atingiu uma valorização de 30% no período, muito acima do CDI. Se 30% é o seu limite superior, é hora de vender o ativo (ou reduzir a participação dele no portfólio) e comprar outro mais barato em oferta.

Diversificar ajuda? A minimizar risco, sim. Mas a diversificação de ativos em carteira, ou seja, aplicar em diferentes títulos que se comportam de forma antagônica quando a economia está em alta ou baixa, não ajuda muito a potencializar rentabilidade. Vejo muitos investidores profissionais preferindo deixar todos os ovos numa só cesta, possivelmente rentável, do que espalhá-los pela granja, minimizando risco. Mas isso vai do perfil de risco de cada um.

No fim do dia, disciplina, disciplina. E calma. “O mercado de ações é um dispositivo para transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes.” Essa frase é atribuída a um dos mais conhecidos investidores do mundo Warren Buffet. Aos 30 anos de idade, alcançou seu primeiro milhão de dólares. Seu salário médio na época era de $ 5.400 dólares. Aos 60 anos de idade, a fortuna de Buffet já estava na ordem dos bilhões. Paciência e conhecimento.

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