Antes de começar essa conversa, preciso reforçar um conceito que, às vezes, é esquecido. Títulos de renda fixa não têm rendimentos necessariamente fixos ou garantidos, ou seja, eles têm risco, ainda que pequeno. Especialmente se você fizer resgates antecipados (antes do vencimento) desses títulos, a rentabilidade do investimento em renda fixa não está livre de oscilação. Isso ocorre devido à marcação a mercado dos títulos. Marcar a mercado significa ajustar diariamente o preço do título às mudanças do indexador no tempo, que são influenciadas pela oferta e pela demanda no mercado financeiro.
Mas como decidir se resgatar um título de renda fixa antes do vencimento é uma boa escolha? Você precisa do preço de referência para saber se pode vender o título a um preço menor ou maior do que aquele que pagou no ato da compra. Aí entra a marcação a mercado, que fornece essa referência.
Se o título que você comprou está sendo negociado abaixo do preço na curva (preço do seu título caso você segure até o vencimento e não decida vendê-lo antecipadamente), por que você o venderia no mercado secundário? Você venderia algo que vale R$ 20 por uma oferta de R$ 10? Logo, essa marcação a mercado é ferramenta importantíssima para o equilíbrio de preços e para a transferência correta de riqueza entre os agentes envolvidos na transação.
A B3, bolsa de valores brasileira, disponibilizou em sua área restrita ao investidor os preços marcados a mercado das debêntures, que são títulos de renda fixa emitido por empresas.
Prima do Tesouro Direto (títulos emitidos pelo governo), a debênture oferece uma rentabilidade esperada superior e pode haver isenção de imposto de renda para pessoa física se a debênture for incentivada, ou seja, emitida por uma empresa de infraestrutura (logística, transporte, saneamento, mineração, energia, etc.).
Vale a pena comprar debêntures se a empresa emissora é sólida, madura e tem caixa suficiente para sinalizar solvência de longo prazo. A Vale e a Petrobras são expressivas debenturistas no Brasil. Esse mercado tem ganhado a atenção dos investidores, o número de CPFs titulares de debêntures somava 300 mil no fim de 2021, uma alta de 50% em relação a 2020.
Hoje, apenas os fundos de crédito têm a obrigação de fazer a marcação a mercado e informar isso ao investidor. A Anbima, autarquia que regula o mercado financeiro, definiu que, a partir de 2023, as plataformas de investimento, corretoras e bancos terão que informar, pelo menos mensalmente, a variação do valor dos papéis detidos por seus clientes (marcação a mercado).
A área logada do investidor na B3 vem sendo aprimorada desde 2021, lá é possível verificar extratos de investimentos e o valor da sua carteira. A ideia é que o investidor saiba qual o preço de referência do papel para decidir se vale a pena ou não negociá-lo no mercado secundário. A B3 passará a disponibilizar a precificação de mais de mil debêntures (93% dos títulos negociados por CPFs).
Em resumo, a transparência sobre a marcação a mercado de debêntures é uma ferramenta útil de educação financeira. Ponto para a B3, excelente para o investidor.
Por último e não menos importante: muito se tem falado sobre debêntures nesse contexto de juros altos. Vejo muitos assessores de investimento recomendando esse produto ao cliente. Antes de dizer sim, verifique a qualidade do emissor, ou seja, os atributos e a capacidade de solvência da empresa debenturista; e claro, não se deixe levar por lábia de vendedor, estude o título e a companhia. As empresas emitentes podem pagar comissões relevantes aos intermediários que comercializam essas debêntures.
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