Formado em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Começou a carreira operando ações na antiga corretora do Banestes e há 5 anos é chefe da mesa de renda variável da Valor Investimentos. Sócio desde 2018 e um dos responsáveis pelo comitê de alocação de ativos. CFA® Program participant, CFA Institute.

Aumento dos juros é cavalo solitário no combate ao dragão da inflação

O principal desafio do mundo é o controle do aumento de preços. Os bancos centrais têm elevado suas taxas básicas de juros para controlar essa escalada e, até aqui, ao que parece, não têm sido bem-sucedidos

Vitória
Publicado em 14/10/2022 às 10h20

Nas semanas que se passaram, os mercados mantiveram a tônica dos meses anteriores, e ainda estamos sofrendo, a conta-gotas, em espera pela resposta dos bancos centrais mundiais à escalada da inflação.

Assim como de costume, na primeira sexta-feira do mês de outubro é divulgado para o mercado o dado de geração de empregos na economia americana. No dia 7, vimos um dado assustador, e creio que terei dificuldades para explicar, mas vamos lá.

Era esperado que a economia americana criasse 250 mil postos de trabalho no mês anterior e, na verdade, acabou gerando 263 mil vagas. Esperava-se que o desemprego, por sua vez, fosse de 3,7%, assim como no mês de agosto. Entretanto, a taxa caiu ainda mais, para 3,5%. Mas por que isso pode ser interpretado como ruim?

Grande parte do problema do aumento de preços da economia americana é justificado pela demanda altíssima por produtos e até mesmo escassez de alguns outros.

Um mercado de trabalho tão forte mantém, ou até mesmo aumenta, a demanda pelos produtos. Seguindo a lei básica da economia da oferta e da demanda, e pressupondo que a oferta de produtos é inelástica (não aumenta nem diminui) no curto prazo, temos que qualquer aumento de demanda acaba gerando aumento de preço. De maneira geral:

Aumento de emprego —>> Aumento de renda —>> Aumento de consumo —>> Aumento de preços

Selic, a taxa básica de juros brasileira, está numa trajetória de alta devido à inflação
Taxa de juros tem subido no mundo todo para controlar inflação, mas tem sido ineficiente nesse aspecto. Crédito: A Gazeta/Canva Pro

Resgatando um pouco do que tenho comentado nas colunas, o principal desafio do mundo é o controle do aumento de preços. Os bancos centrais têm elevado suas taxas básicas de juros para controlar essa escalada e, até aqui, ao que parece, não têm sido bem-sucedidos.

Aí vem o problemão: como faltam instrumentos que tenham atuação no curto prazo, a condução da política monetária de aumento de juros é o cavalo solitário para a maior parte das economias no combate ao dragão. Como o aumento de juros, até aqui, não freou o aumento de juros, o jeito é aumentar mais.

E se não resolver o problema ? Aumenta mais ainda.

Nosso grande medo é esse, e os dados das últimas semanas não ajudaram muito em diminuir esse temor. A tão sonhada “aterrissagem suave” das economias, após anos de crescimento econômico, parece cada vez mais impossível e a recessão global cada vez mais uma realidade.

Qual o impacto disso tudo nas nossas vidas ? Vou quebrar por cada problema.

Inflação

  • Para o trabalhador, destrói o poder de compra do dinheiro e diminui a renda renda disponível.
  • Para o empresário, posterga decisões de investimento.

Juros

  • Para o trabalhador, significa menor acesso ao crédito (que fica mais caro), menos oportunidades de emprego, menor propensão a consumir.
  • Para o empresário, significa menor propensão a investir (correr riscos) e menos projetos viáveis.

De maneira geral, essas condições de aperto monetário e de aumento de inflação são destruidoras de riqueza e causam prejuízos à população.

Não à toa estamos passando por uma das piores performances da bolsa de valores americana dos últimos anos.

A bolsa é um bom termômetro do patrimônio de todos os cidadãos e representa muito bem como nossa riqueza evolui em momentos de tensão.

Para a próxima semana, volto a falar do efeito do aumento de juros, mas dessa vez em relação à preocupação com a saúde financeira dos bancos europeus.

Até.

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