O maior desafio do meu dia a dia acompanhando o mercado é saber identificar os acontecimentos que realmente serão responsáveis pelas mudanças das variáveis econômicas e preço dos ativos. A cada quatro anos me vejo refletindo sobre o real impacto das eleições nas empresas e na economia, sobretudo no curto prazo.
Vou tentar separar qualquer viés ideológico que por ventura eu carregue para chegar no cerne da discussão do pleito atual: o que faremos com nossa situação fiscal?
Já venho falando há algumas semanas que estamos mais uma vez na contramão do mundo, dessa vez indo para o lugar correto (estabilidade da moeda e crescimento econômico). E ao que tudo indica, nossa economia tem apenas um grande risco: o descontrole fiscal.
A agenda dos dois candidatos até aqui (pelo menos a que foi apresentada nos programas de governo) prevê um gasto acima do orçamento previsto (LDO) de R$ 100 bi no caso de Bolsonaro e de R$ 150 bi no caso de Lula. Sob essa ótica, o primeiro ano de governo, dos dois, tende a ser muito parecido e caminhamos para um endividamento adicional entre 0,5% a 1% do PIB.
Com essa dívida adicional, o Brasil deve alcançar o patamar de 80% do PIB em dívida bruta (ainda temos um patamar de reservas bem confortável). Essa mudança sensível do nível de endividamento é pouco relevante na análise, o que preocupa mesmo é a nossa trajetória.
O descompromisso fiscal é o que impede a vinda de um fluxo maior de investimentos para cá, limita nosso crescimento de longo prazo e nos mantém na eterna espiral inflacionária. Romper com essa sina é abandonar o rótulo de país em desenvolvimento e vestir a camisa de país desenvolvido.
A grande pergunta que fica é: o que será feito a partir de 2023 e quem manterá o respeito ao teto de gastos, autonomia do Banco Central e regime de inflação?
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