Formado em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Começou a carreira operando ações na antiga corretora do Banestes e há 5 anos é chefe da mesa de renda variável da Valor Investimentos. Sócio desde 2018 e um dos responsáveis pelo comitê de alocação de ativos. CFA® Program participant, CFA Institute.

Quem sofre as consequências do caso das Lojas Americanas?

Empesa anunciou rombo contábil de cerca de R$ 20 bilhões, causando um grande estrago no mercado financeiro

Vitória
Publicado em 16/01/2023 às 17h46

Alguns acontecimentos ficam marcados na história e só nos damos conta tempos depois. Sem dúvida nenhuma, o que aconteceu com as Lojas Americanas na semana passada é um deles.

No fim do dia 11 de janeiro, as Lojas Americanas, famosa empresa do grupo 3G, soltou fato relevante informando que havia encontrado cerca de R$ 20 bilhões em “inconsistências contábeis”. Para efeito de comparação, naquele momento, a empresa tinha valor de mercado de R$ 14 bilhões.

Lojas Americanas
Lojas Americanas: empresa vive crise devido a rombo contábil bilionário . Crédito: Divulgação/ Lojas Americanas

O mercado ficou louco e, logo na manhã seguinte, amanheci em um conference call com Sérgio Rial, ex-CEO da empresa — na noite anterior, ele havia renunciado após pouco mais de uma semana no cargo. No meio de tanta confusão, ficou claro: a empresa havia deixado de registrar um passivo de cerca de R$ 20 bilhões em quase 10 anos de “enganos” nos lançamentos da conta de  fornecedores.

Durante a conferência, Rial comentou que a empresa precisaria de uma injeção de liquidez (oferta de ações) para se manter capaz de honrar com as dívidas atuais (cerca de R$ 14 bilhões) e sem ainda saber o tamanho do buraco que os enganos deixariam. Além disso, ficou claro como os controles internos da empresa foram fracos em permitir que tal "criatividade contábil" existisse por tanto tempo.

O resultado não poderia ser diferente. As ações abriram com queda de quase 80% (mais de R$ 10 bilhões de destruição) em relação ao preço de fechamento do dia anterior, e os títulos de dívida da empresa chegaram a negociar em queda de 75%. A classificação da dívida da empresa que era de AAA (maior grau de segurança possível) logo foi para CC e considerada insolvente. Uma loucura!

Quando olho para o que aconteceu com os títulos de dívida das Lojas Americanas, me lembro da grande crise financeira de 2008,  em que as agências de risco consideravam os CDOs (derivativos ligados ao setor imobiliário) de altíssima qualidade e, da noite para o dia, foram considerados “Junky bonds”, ou ativos de lixo. Será que não aprendemos nenhuma lição com isso?

Enquanto escrevo, existe um impasse entre os principais bancos credores da dívida impagável da Americanas e a companhia. Mesmo que a empresa não honre com suas obrigações, tenho certeza de que os bancos não serão os maiores prejudicados com a bancarrota.

Quem mais perde com a “criatividade” contábil, com o “erro” das agências de risco e auditores independentes, sem dúvida alguma somos nós, brasileiros, e nosso mercado de capitais. Um capitalismo frágil como o tupiniquim precisa de instituições fortes e não pode ser leniente com “erros”, como os que descrevi. Precisamos de punições exemplares, e o mínimo que se espera é algum tipo de compensação aos investidores que foram prejudicados.

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