Assessor e Especialista em investimentos da Valor. Diretor do IBEF-ES (Instituto Brasileiro de Executivos em Finanças). MBA pela PUC (RS) em Finanças, Investimentos e Banking

Copom segue ciclo de aperto monetário diante de riscos inflacionários

Banco Central mantém taxa básica de juros em 13,75% e destaca que ainda persistem fatores que podem influenciar um cenário de alta na inflação

Vitória
Publicado em 04/05/2023 às 10h25

A capacidade em prever e lidar com o futuro depende muito da compreensão das relações de causa e efeito das circunstâncias vivenciadas. Mudanças relevantes de ordem climática, demográfica, tecnológica, econômica têm acontecido numa rapidez sem precedentes em nossa época, mas já vivenciadas em períodos passados.

Aumento inflacionário e dos juros no mundo também é conhecido. A fim de desempenharem bem suas funções, os Bancos Centrais estão privilegiando duas características. Uma delas é a paciência. Na maioria das vezes, é necessário esperar para que as decisões de política monetária façam efeito. Único problema é a tentação de exagerar na dose, para apressar o controle da inflação.

A segunda característica é o ceticismo. A teoria por trás da atuação dos Bancos Centrais é bem conhecida. Mesmo assim, a economia é um organismo dinâmico e complexo demais. É ilusório esperar que, intervindo em uma só variável, ainda que importante como a taxa de juros, seja possível obter todos os efeitos desejados na inflação e no ritmo da atividade econômica. Há dois anos — maio de 2021 —, tínhamos a Selic em 3,50% e uma inflação de 8%. Hoje, a Selic está em 13,75% e a inflação 4,65%.

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília
Edifício-Sede do Banco Central em Brasília. Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Ontem, por exemplo, o Comitê de Política Monetária (Copom) ressaltou que, em seus cenários para a inflação, ainda persistem fatores de risco, seguindo a manutenção da taxa básica de juros. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:

  1. Persistência das pressões inflacionárias globais; 
  2. Incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação e sobre os ativos de risco; 
  3. E uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Diante das projeções do Copom e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, o comitê enxerga como apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. Em outras palavras, não será surpresa se, na próxima reunião do Copom (dias 15 e 16 de junho), a Selic seja anunciada com uma nova alta.

O ciclo de aperto monetário parece não ter findado. Esse fenômeno é mundial. E, por isso mesmo, evoluções, fases e acidentes no meio do caminho são naturais.

Baseado no livro de Ray Dalio, "Princípios para a ordem mundial em transformação", o gráfico abaixo mostra os ciclos e a relação de riqueza e poder dos onze principais impérios dos últimos 500 anos. Cada um dos índices de riqueza e poder é uma combinação de oito determinantes diferentes:

  1. Educação;
  2. Competitividade;
  3. Inovação e tecnologia;
  4. Produto econômico;
  5. Fatia do comércio internacional;
  6. Poderia militar;
  7. Força como centro financeiro;
  8. Status da moeda de reserva.
gráfico coluna Thiago Goulart
Crédito: Reprodução

Pode-se constatar que a tendência de alta de ganhos de produtividade que leva ao aumento da riqueza e à melhoria dos padrões de vida é envolta em ciclos que produzem períodos prósperos de fortalecimento do país, pois conta com níveis relativamente baixos de endividamento, hiatos políticos, de riqueza e de valores relativamente pequenos, um povo que trabalha unido de maneira eficaz para produzir prosperidade, boa educação, boa infraestrutura, líderes fortes e capazes e uma ordem mundial pacífica guiada por uma ou mais potências mundiais dominantes. Esses são os períodos prósperos.

Uma parte dos nossos problemas é a herança; outra, fruto de escolhas. Identificar, entender e se adaptar a mudanças de paradigma é essencial.

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