A capacidade em prever e lidar com o futuro depende muito da compreensão das relações de causa e efeito das circunstâncias vivenciadas. Mudanças relevantes de ordem climática, demográfica, tecnológica, econômica têm acontecido numa rapidez sem precedentes em nossa época, mas já vivenciadas em períodos passados.
Aumento inflacionário e dos juros no mundo também é conhecido. A fim de desempenharem bem suas funções, os Bancos Centrais estão privilegiando duas características. Uma delas é a paciência. Na maioria das vezes, é necessário esperar para que as decisões de política monetária façam efeito. Único problema é a tentação de exagerar na dose, para apressar o controle da inflação.
A segunda característica é o ceticismo. A teoria por trás da atuação dos Bancos Centrais é bem conhecida. Mesmo assim, a economia é um organismo dinâmico e complexo demais. É ilusório esperar que, intervindo em uma só variável, ainda que importante como a taxa de juros, seja possível obter todos os efeitos desejados na inflação e no ritmo da atividade econômica. Há dois anos — maio de 2021 —, tínhamos a Selic em 3,50% e uma inflação de 8%. Hoje, a Selic está em 13,75% e a inflação 4,65%.
Ontem, por exemplo, o Comitê de Política Monetária (Copom) ressaltou que, em seus cenários para a inflação, ainda persistem fatores de risco, seguindo a manutenção da taxa básica de juros. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:
- Persistência das pressões inflacionárias globais;
- Incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação e sobre os ativos de risco;
- E uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Diante das projeções do Copom e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, o comitê enxerga como apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. Em outras palavras, não será surpresa se, na próxima reunião do Copom (dias 15 e 16 de junho), a Selic seja anunciada com uma nova alta.
O ciclo de aperto monetário parece não ter findado. Esse fenômeno é mundial. E, por isso mesmo, evoluções, fases e acidentes no meio do caminho são naturais.
Baseado no livro de Ray Dalio, "Princípios para a ordem mundial em transformação", o gráfico abaixo mostra os ciclos e a relação de riqueza e poder dos onze principais impérios dos últimos 500 anos. Cada um dos índices de riqueza e poder é uma combinação de oito determinantes diferentes:
- Educação;
- Competitividade;
- Inovação e tecnologia;
- Produto econômico;
- Fatia do comércio internacional;
- Poderia militar;
- Força como centro financeiro;
- Status da moeda de reserva.
Pode-se constatar que a tendência de alta de ganhos de produtividade que leva ao aumento da riqueza e à melhoria dos padrões de vida é envolta em ciclos que produzem períodos prósperos de fortalecimento do país, pois conta com níveis relativamente baixos de endividamento, hiatos políticos, de riqueza e de valores relativamente pequenos, um povo que trabalha unido de maneira eficaz para produzir prosperidade, boa educação, boa infraestrutura, líderes fortes e capazes e uma ordem mundial pacífica guiada por uma ou mais potências mundiais dominantes. Esses são os períodos prósperos.
Uma parte dos nossos problemas é a herança; outra, fruto de escolhas. Identificar, entender e se adaptar a mudanças de paradigma é essencial.
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