"Se você quer saber o valor de um ano, pergunte a um estudante que falhou em um exame final. Se você quer saber o valor de um mês, pergunte a uma mãe que deu à luz. Se você quer saber o valor de uma hora, pergunte ao amante que esperou por esse tempo."
Benjamin Franklin, um dos pais fundadores da nação americana e um dos maiores pensadores da era colonial dos Estados Unidos, escreveu a frase acima em um ensaio intitulado "The Way to Wealth" (A maneira de enriquecer), publicado em 1748. Também é autor da famigerada expressão “tempo é dinheiro”.
O apelo recorrido à Franklin é o gancho para dizer que, quando nossas expectativas estão fora do lugar, costumam gerar fobia financeira, ou seja, não basta necessariamente ter dinheiro. Em outras palavras, ter renda é diferente de saber lidar com dinheiro que, por sua vez, é distinto em ter uma formação sustentável de patrimônio.
O estudo "Raio-X do Investidor" (2022), realizado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), mostra que somente um terço dos brasileiros investe em produtos financeiros, com destaque para a classe A/B.
Segundo a Anbima, dentre os investimentos que a população conhece, a caderneta de poupança é o produto financeiro mais utilizado entre os brasileiros, com 23% das menções. Esse percentual sobe para 35% na classe A/B e cai para 14% na D/E.
Já os demais produtos, como fundos de investimento, títulos privados, ações e ativos digitais, apresentam uma participação baixa na carteira de investimento da população. E uma pequena parte dos brasileiros ainda guarda dinheiro em casa e/ou “no colchão” (2%).
Um dos motivos para entender a relação das pessoas com o dinheiro é fator determinante na compreensão do "modus operandi" comportamental e dos impulsos emocionais que deflagram conflitos e estresse entre casais, famílias, filhos, etc.
Ao mesmo tempo que proporciona prazer, o dinheiro também é fonte de conflito. Tal relação é detectável na pesquisa acima e flagrante entre os brasileiros.
Temos a tendência de pensar que o passado foi melhor do que realmente ele foi; o presente é pior do que realmente ele é; e o futuro será melhor do que provavelmente ele não será. Ou seja, tendemos, em doses cavalares, a colocar nossas expectativas no lugar errado, gerando a fobia financeira.
Thiago Goulart
Assessor e Especialista em investimentos da Valor
"Apesar de a pandemia trazer um senso de urgência maior às pessoas, cuja poupança realizada foi circunstancial, não conseguiu transformar a atitude da maior parte dos brasileiros. A poupança precaucional quase inexiste por aqui, forçando muitas pessoas a viver no improviso."
Esse ponto pode ser visto no pós-pandemia quando houve um “consumo de revanche”, e o lado emocional e gastador falou, como sempre, mais alto. Daí, a relação com o dinheiro entre os brasileiros ser turva, nebulosa e improvisada.
Controlar impulsos, saber esperar e pensar nas consequências dos atos são fatores que contribuem na maneira em lidar com o dinheiro.
Teste comportamental
Há um famoso experimento realizado no início dos anos 60 pelo psicólogo Walter Mischel: o Teste do Marshmallow. O objetivo do teste era medir a capacidade de autocontrole das crianças.
Durante o experimento, as crianças eram colocadas em uma sala e era oferecido uma recompensa, geralmente um marshmallow. Contudo, os cientistas ofereciam a opção de comê-lo imediatamente ou esperar um período determinado e, em troca, receber duas recompensas.
Os resultados mostraram que as crianças que foram capazes de esperar mais tempo para receber a segunda recompensa tendiam a ter melhores resultados acadêmicos e emocionais mais tarde na vida.
Por fim, deixo uma reflexão aos leitores(as). O prazer é uma referência do hoje e o benefício, do amanhã. As pessoas têm muita dificuldade de deixar de fazer algo hoje, por alguma coisa que não se sabe o que vai acontecer no futuro. Tudo é uma questão de escolhas.
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