Assessor e Especialista em investimentos da Valor. Diretor do IBEF-ES (Instituto Brasileiro de Executivos em Finanças). MBA pela PUC (RS) em Finanças, Investimentos e Banking

Investidor tem razão em dolarizar a carteira diante do risco político?

É importante utilizar um plano de investimento que ajude a minimizar as influências políticas vivenciadas no Brasil, garantindo uma gama de oportunidades no mercado estrangeiro em moeda forte

Vitória
Publicado em 23/02/2023 às 10h05
Dólar, investimento no exterior, mercado estrangeiro
Está cada vez mais acessível para o brasileiro investir em uma moeda forte, como o dólar. Crédito: Shutterstock

Toda dose de pessimismo é mais cativante intelectualmente. Costuma chamar mais atenção que o otimismo, parecendo mais esperto, além de ser encarado como uma espécie de aversão ao risco. Quando se trata do risco político vis-à-vis o mercado brasileiro, a preocupação que ronda os investidores é traço marcante. Será que o investidor tem razão ao buscar dolarizar a carteira?

Após a tensão pré-carnaval brandida pelas estocadas do presidente Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entraram em cena para arrefecer os ânimos os diplomáticos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento). Isso porque os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, responsáveis pela lei que conferiu autonomia do Banco Central, já haviam reiterado que o assunto era fato consumado.

Há quem diga que tal premissa petista traz à tona uma possível disputa à sucessão presidencial protagonizado pelos ministros Haddad, Tebet e Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Depois da trégua carnavalesca, os holofotes se voltam aos atritos entre Haddad e Mercadante acerca do novo arcabouço fiscal que deverá substituir o teto de gastos.

Na última sexta-feira (17), foi noticiado que o ministro Haddad teria apresentado ao chefe do Executivo dados compilados pela Secretaria de Política Econômica, provando a ineficácia do aumento da meta de inflação como instrumento para baixar os juros básicos da economia. Nesse sentido, ainda pode haver novidades sobre o novo marco fiscal, esperado para março, além do novo pacote econômico do Planalto, que contém a revisão da tabela do Imposto de Renda — aumentando a alíquota de isenção —, o novo salário mínimo de R$ 1.320 e o programa de renegociação de dívidas.

Por fim, entre uma dose de pessimismo e, quiçá, de otimismo, é possível que aconteça a reoneração dos combustíveis a partir do dia 1º de março. A isenção de cobrança do PIS/Cofins, instituída pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, havia sido prorrogada por dois meses pelo presidente Lula em janeiro, sendo um ponto de divergência entre a ala econômica e o núcleo político do governo.

Respondendo à pergunta do parágrafo inicial: diante do risco político, não restam dúvidas. O investidor tem razão em dolarizar a carteira. O risco Brasil é muito alto. Concentrar os investimentos somente por aqui pode ser um teste para cardíacos. Daí ser cada vez mais necessário os investidores saírem da Caverna de Platão e começarem gradativamente a diversificar geograficamente seus investimentos.

Saindo da zona de conforto

O "home bias" — ou viés doméstico em português — é a tendência de investidores preferirem ativos domésticos, ou seja, ao invés de diversificar a carteira em outras regiões, muitos investidores têm quase todo o portfólio concentrado em ativos de seu próprio país por terem uma falsa familiaridade com empresas/ativos locais.

Ao ficarmos dentro dessa zona de conforto, deixamos de lado um conjunto enorme de oportunidades de investimentos fora de nossas fronteiras, por exemplo, investir em renda fixa e/ou renda variável nos Estados Unidos. Hoje, todo brasileiro pode defender seu poder de compra via dólar. O acesso antes truncado e somente para o público de alta renda é fato passado. Abrindo uma conta em corretora americana, por exemplo, é muito simples.

Além disso, é perceptível que o investidor brasileiro tem procurado saber mais a respeito com seu assessor de investimentos. Segundo o Banco Central, o investimento no exterior cresceu 47,5% entre 2021 e 2022.

Os últimos dez anos foram extremamente tumultuados, trazendo bastante volatilidade para os investidores — altos e baixos no ciclo de commodities, crise financeira, mudanças políticas e a pior recessão da história. Adiciona-se a isso, o fato de que o Brasil é responsável por menos de 3% do PIB global e somente 1% a 2% dos mercados de capitais do mundo.

Para termos uma ideia, apesar dessas dificuldades e das taxas de juros tradicionalmente altas no Brasil, o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) esteve entre as classes de ativos com o pior desempenho entre 2012 e 2021. Por outro lado, uma carteira dolarizada, incluindo títulos e ações globais, registrou retorno de 12,7% ao ano no mesmo período (mais de 229% de retorno total acumulado).

Em suma, investir globalmente ajuda a reduzir a concentração setorial. É importante que os investidores estejam atentos a essas tendências e utilizem um plano de investimento que ajude a minimizar as influências do risco político que vivenciamos a cada semana por aqui, garantindo uma gama de oportunidades no mercado estrangeiro em moeda forte.

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