Graduado em Economia pela Ufes, com MBA em Gestão Financeira e Controladoria pela FGV e MBA em Digital Business pela USP. Atua há 15 anos no mercado financeiro e atualmente é diretor do Banestes.

Por que o Banco Central pode aumentar a taxa Selic?

Aumento da taxa básica de juros é uma das estratégias frequentemente adotadas para controlar a inflação em momentos de pressão econômica

Vitória
Publicado em 17/09/2024 às 09h16
Taxa Selic
Anúncio da decisão sobre nova taxa Selic será nesta quarta-feira (18) . Crédito: Shutterstock

O Banco Central do Brasil, responsável pela política monetária do país, possui uma ferramenta poderosa para controlar a inflação: a taxa Selic, ou taxa básica de juros. O aumento da Selic é uma das estratégias frequentemente adotadas para controlar a inflação em momentos de pressão econômica. Para entender melhor essa decisão, precisamos explorar como inflação, taxa Selic e atividade econômica estão interligados.

Inflação: o vilão da economia

inflação é o aumento contínuo dos preços de bens e serviços ao longo do tempo. Quando a inflação está elevada, o poder de compra da população diminui, ou seja, o dinheiro vale menos e as famílias conseguem adquirir menos com a mesma quantidade de recursos. Em períodos de alta inflação, o custo de vida sobe, afetando tanto consumidores quanto empresas.

Taxa Selic: um freio na inflação

O aumento da taxa Selic é uma das formas de tentar reduzir o ritmo da inflação. A Selic é a referência para os juros cobrados pelos bancos em empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. Quando o Banco Central aumenta a Selic, os juros cobrados nos financiamentos e no crédito ao consumidor também sobem. Com isso, o consumo tende a diminuir, já que a população fica mais reticente em pegar empréstimos caros ou usar o crédito disponível.

Esse efeito na economia funciona como um "freio": ao reduzir o consumo e o investimento, a demanda por bens e serviços cai. Com menos demanda, a pressão sobre os preços diminui e, em teoria, a inflação desacelera.

Por exemplo, quando o Banco Central subiu a Selic em 2021, foi uma resposta direta à crescente inflação que o país enfrentava após o choque econômico da pandemia. A medida buscava controlar a escalada dos preços de alimentos que estava pesando no bolso da população.

Atividade econômica: o outro lado da moeda

Entretanto, o aumento da Selic também traz um efeito colateral importante: a desaceleração da atividade econômica. Com juros mais altos, além de o consumo cair, as empresas também tendem a adiar investimentos, já que o crédito para expansão ou novos projetos se torna mais caro. Esse cenário pode resultar em uma redução no crescimento econômico e, em casos mais graves, até mesmo em recessão.

Esse é o grande dilema enfrentado pelo Banco Central. Ao aumentar a Selic para conter a inflação, corre-se o risco de desacelerar demais a economia, prejudicando o crescimento e elevando o desemprego. Porém, não agir frente a uma inflação crescente pode gerar um problema ainda maior: uma espiral de aumento de preços descontrolada, com efeitos devastadores para a economia.

O desafio da política fiscal

Além da política monetária, a política fiscal do governo também exerce influência sobre a decisão do Banco Central. Se o governo gasta demais ou aumenta sua dívida de forma insustentável, isso pode pressionar ainda mais a inflação. No Brasil, esse equilíbrio entre a política fiscal e monetária é delicado. Quando o governo adota políticas expansionistas, como aumento de gastos públicos, o Banco Central pode se ver forçado a aumentar a Selic para conter os efeitos inflacionários dessa política.

Por que aumentar agora?

Atualmente, o Banco Central sinaliza um aumento da taxa Selic devido à persistência da inflação acima da meta estabelecida. A meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional, serve como referência para a atuação do Banco Central. Quando a inflação se desvia muito dessa meta, a instituição precisa agir para trazê-la de volta ao patamar desejado.

Conclusão

A decisão de aumentar a Selic é uma resposta direta à necessidade de controlar a inflação, mesmo que isso signifique frear o crescimento econômico. Esse equilíbrio delicado entre conter a inflação e não sufocar a atividade econômica é o desafio que o Banco Central enfrenta continuamente. A relação entre Selic, inflação e atividade econômica é complexa, mas essencial para manter a estabilidade do país. Afinal, sem estabilidade, tanto consumidores quanto empresas encontram dificuldades em planejar o futuro e prosperar.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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