O famoso astronauta Buzz Lightyear, protagonista da franquia Toy Story, não teria dificuldades em descrever a recente performance do mercado de ações norte-americano: ao infinito e além. Surpreendendo até os analistas mais otimistas, o principal índice de ações americano acumula ganhos de 15% no ano, ultrapassando o patamar dos 4.400 pontos, próximo dos níveis em que negociava no início do ano passado, antes do gigante aperto monetário promovido pelo FED.
Essa onda de valorização das ações americanas, no entanto, pegou boa parte dos participantes do mercado desprevenidos. Com grandes receios sobre uma provável recessão à frente e valuations acima da média histórica, diversos foram os gestores que perderam dinheiro apostando no movimento contrário. Entre os multimercados brasileiros, o short (venda à descoberto) em SP500 é um dos trades mais populares do ano, o que explica, em parte, por que quase todos entregam resultados abaixo do CDI no período.
De certa forma, não é difícil entender as razões da formação de um consenso vendedor. A economia americana, apesar de manter um mercado de trabalho extremamente forte, dá sinais de desaceleração e, provavelmente, caminha para uma recessão. A inflação caiu para níveis próximos a 4% a.a., mas ainda está substancialmente acima das metas do Banco Central americano, o que deve exigir que os juros permaneçam altos por algum tempo. A combinação de crescimento desacelerando, juros restritivos e inflação ainda elevada geralmente provoca efeito adverso sobre o lucro das empresas.
Olhando para os preços, o valuation do SP500 não parece nem de longe refletir um cenário desse tipo. Negociando a pouco mais de 19 vezes o lucro estimado para os próximos 12 meses, o índice está sensivelmente mais caro quando comparado com sua média histórica. O prêmio de risco para se investir em ações (ERP), medido como a diferença entre o retorno esperado das ações e a renda fixa também é significativamente menor que a média histórica. Ou seja, uma análise superficial aponta que as ações estão caras, mesmo em um cenário econômico desafiador.
Entretanto, como toda boa análise de cenário deve ter dois lados, também existem bons motivos para acreditar que o rally das ações americanas pode continuar. A mais direta delas é o salto tecnológico advindo da revolução de Inteligência Artificial. O grande potencial do uso disseminado da nova tecnologia começou a ficar mais claro e já produz impacto relevante em empresas que estão ligadas diretamente ao seu desenvolvimento.
É o caso da NVIDIA, que produz tipos específicos de microchips adequados para executar softwares de inteligência artificial e sobe mais de 150% no ano, após apresentar resultados surpreendentes. Para o futuro, com a aplicação da nova tecnologia em empresas de setores diversos, é possível que os ganhos de produtividade que hoje estão restritos nas companhias diretamente associadas ao desenvolvimento da tecnologia se disseminem para a economia como um todo.
Outra razão para acreditar na continuidade na alta das ações é o posicionamento técnico do mercado, que é extremamente favorável. O consenso pessimista formado sobre a bolsa americana faz com que os investidores estejam com baixo nível de alocação. Em uma eventual mudança de cenário, isso pode representar um grande fluxo em direção às ações.
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A grande verdade é que a direção do mercado é bem menos óbvia do que sugerem as análises mais superficiais, mas, pelo menos por enquanto, ainda impera o mantra do bom e velho Oráculo de Omaha, Warren Buffet: never bet against America.
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