O forte movimento de aversão ao risco que impacta o mercado brasileiro desde o final do ano passado parece finalmente ter dado uma trégua. Desde março, a bolsa brasileira — que fez a mínima do ano aos 97.926 pontos — já sobe mais de 13%, retomando o patamar de 110.000 pontos. Neste mesmo período, o dólar, que bateu a cotação de R$ 5,30, recuou para níveis inferiores aos R$ 5, e os juros de 10 anos, que chegaram a bater 13,6% no início de março recuaram quase 200 pontos, para o patamar de 11,7%.
No cerne da melhora do sentimento dos mercados, parece estar a percepção de que nos afastamos de cenários extremos, tanto para o lado positivo quanto para o lado negativo. Se, por um lado, já é claro que a nova versão do governo Lula não apresenta o pragmatismo econômico praticado na gestão anterior, por outro, parece que o ambiente institucional amadureceu o suficiente para evitar que o país caminhe para uma total desordem. O caminho da mediocridade ganhou probabilidade, e o mercado leu isso com bons olhos.
Nesse sentido, uma grande contribuição para a redução da probabilidade dos cenários de cauda é o projeto do novo arcabouço fiscal. O conjunto de regras fiscais, votado na Câmara nesta semana, está longe de ser perfeito. Mesmo utilizando premissas otimistas de crescimento e assumindo que o governo terá êxito nas medidas para aumento de arrecadação, as contas mostram que o arcabouço é insuficiente para estabilizar o crescimento da dívida pública. Entretanto, ele dá algum nível de previsibilidade e evita, a princípio, que o país caminhe para o total descontrole fiscal.
Uma outra surpresa positiva é a postura do Congresso de proteger avanços institucionais feitos nos últimos anos. Nesse sentido, o presidente da Câmara, Arthur Lira, deu uma clara mensagem ao dizer, publicamente, que o Congresso não permitirá retrocessos na economia. Na prática, as atitudes até então confirmam a fala. Apesar de extrema pressão por parte do Executivo, temas como revisão do marco do saneamento, da privatização da Eletrobrás, entre outros medidas do tipo, não têm tido espaço dentro do Parlamento brasileiro.
Atividade econômica
Junto com a melhora na percepção do ambiente institucional, a conjuntura econômica também parece ajudar. O primeiro trimestre surpreendeu em termos de atividade econômica.
Com forte contribuição do setor agropecuário, que contou com uma safra de soja mais forte que o esperado, e a resiliência do setor de serviços, impulsionada pelo aumento da renda das famílias advindo das medidas fiscais adotadas na PEC de Transição, as expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto este ano foram revisadas para cima nos últimos meses.
No relatório Focus, as projeções para o PIB deste ano subiram de 0,7% em janeiro para 1,2% na última publicação, uma revisão relevante e com potenciais impactos para o lucro das empresas.
Queda dos juros
Por fim, há um certo consenso no mercado de que o Banco Central deve iniciar um ciclo de queda de juros no segundo semestre deste ano. Apesar de a comunicação do BC ainda não ser clara em relação ao início do ciclo de queda, as condições econômicas não parecem mais justificar o elevado nível dos juros reais atualmente. O eventual ciclo de queda de juros é visto no mercado como um possível gatilho para impulsionar o preço das ações.
Ainda que seja difícil apontar muitas razões para ficar otimista com o Brasil, os últimos meses trouxeram razões para ficar menos pessimista. Dado o grande nível de desconto atual sobre o preço dos ativos, a redução do pessimismo tem potencial para continuar impulsionando os mercados.
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