Um dos principais aprendizados na vida de um investidor é entender os limites do próprio conhecimento. Muitos dos grandes erros que cometemos na vida ocorrem quando temos demasiada convicção sobre algum tema, o que nos faz ignorar potenciais riscos e nos deixa excessivamente confiantes acerca dos resultados. Essa lógica se aplica perfeitamente aos mercados.
É comum que investidores, sobretudo no início de suas trajetórias, se iludam acerca do seu próprio talento. É tentador acreditar que o fato de você ter comprado uma ação na baixa ou vendido no topo deve-se à sua brilhante capacidade de análise e eficiência em prever o futuro e não a um mero acaso. Entretanto, devido à natureza complexa dos mercados, são pouquíssimos os investidores que obtêm sucesso de forma consistente, buscando acertar os movimentos destes.
Por mais bem informado e inteligente que um investidor seja, é questionável o fato de que ele possa ter uma boa noção sobre o retorno de curto prazo de determinada ação, o movimento da taxa juros ou da taxa de câmbio. De forma geral, prever a direção do preço de qualquer ativo em um mercado líquido é uma tarefa que beira o impossível.
E por que, afinal, os mercados são tão imprevisíveis? Apesar de tratarmos o mercado quase que como uma entidade, vale lembrar que eles são formados basicamente por intenções individuais de compra ou de venda sobre determinado ativo. As ofertas de compra e venda dos milhões de pessoas/firmas que participam ativamente do mercado determinam os preços dos ativos, que por sua vez, refletem as opiniões desses indivíduos acerca das perspectivas futuras dos ativos em questão.
Assim — e é aqui que reside a grande dificuldade —, para acertar a direção do mercado, não basta prever corretamente o futuro. Para ter sucesso, o investidor precisa estar mais certo sobre o futuro que os outros investidores. Um exemplo que ajuda a ilustrar essa ideia é a relação entre o preço de empresas varejistas na bolsa e a ocorrência de um evento como a Black Friday. Um investidor desavisado pode achar uma boa estratégia investir em uma empresa varejista na véspera da Black Friday, afinal, muito provavelmente, as vendas dessa empresa irão aumentar.
Entretanto, como todos os demais investidores também estão cientes de que a Black Friday é um evento que aumenta as vendas da empresa, não há de se esperar nenhuma valorização nas ações, pois os preços já incorporam o evento. Logo, um investidor deve esperar uma variação no preço de um ativo somente quando tem uma opinião diferente do consenso. No exemplo em questão, devo apostar em uma determinada empresa de varejo somente se eu tiver razão para acreditar que as vendas subirão mais do que os outros investidores acreditam que realmente irão subir.
Mas se a chance de um investidor se beneficiar do fato de estar bem-informado acerca do rumo da política monetária americana, por estar atento ao desenrolar do cenário político brasileiro ou por acompanhar o noticiário corporativo é ínfima, onde deve focar seus esforços? Minha dica é: atenha-se ao simples, seja objetivo e prático. Existem conhecimentos e ações práticas que podem fazer toda a diferença no seu sucesso como investidor e que não demandam grande genialidade ou capacidade preditiva. A seguir, listo alguns:
1 - TRACE OBJETIVOS: Ter objetivos claros para o recurso investido é uma ação de fundamental importância para o sucesso da sua estratégia de investimentos. Ter definidos objetivos de curto, médio e longo prazo ajuda o investidor a determinar o prazo dos seus investimentos. Essa organização é importante, pois investimentos de maior prazo geralmente entregam melhor retorno.
2 - CONHEÇA SUA TOLERÂNCIA AO RISCO: Perdas permanentes de capital ocorrem quando o investidor não conhece seu nível de tolerância ao risco. Em momentos de mercado de alta, é comum ver as pessoas adicionando mais risco do que toleram em seus portfólios e depois vendendo essas posições quando o mercado está em baixa, pois estão desconfortáveis com o nível de risco da carteira. Para evitar o movimento das manadas de comprar na alta e vender na baixa, o investidor deve estar ciente do nível de risco que suporta correr.
Para determinar o nível de risco da carteira, existem alguns fatores que o investidor deve levar em consideração. Primeiramente, tenha uma noção clara do prazo que pode deixar o capital investido. Só é recomendável adicionar ativos de maior risco na carteira, como ações, se você não tiver um compromisso para o recurso aplicado e puder deixá-lo aplicado por um longo período. Dessa forma, você terá o conforto de saber que não será obrigado a resgatar os recursos em um momento ruim e que poderá esperar para vender em um momento oportuno.
Outro exercício que ajuda a ajustar o nível de risco desejado é fazer uma simulação do histórico da carteira desejada. Existem diversas ferramentas gratuitas na internet hoje em que é possível montar uma carteira e observar como elase comportou ao longo do tempo. Neste exercício, dê enfoque aos piores meses, pense se estaria confortável com aquele nível de oscilação.
3 - TENHA UMA CARTEIRA DIVERSIFICADA: Harry Markowitz, prêmio Nobel de Economia pelo seu trabalho sobre os efeitos de risco, rentabilidade, correlação e diversificação de ativos nos retornos de portfólios, disse que a diversificação é o único almoço grátis do mercado. Em outras palavras, ter uma carteira diversificada, com ativos que sejam não correlacionados, faz com que você tenha mais retorno para um mesmo nível de risco, ou menos risco para um mesmo nível de retorno. Assim, conhecer as diferentes classes de ativos e ter noções básicas sobre como combiná-los em uma carteira é um conhecimento que gera um grande diferencial para o investidor.
4 - DISCIPLINA NOS APORTES: A rentabilidade é um fator importante para ajudar o investidor a atingir seus objetivos, mas, sobretudo no início da sua jornada de acumulação de recursos, a disciplina nos aportes terá o papel central. Uma dica que ajuda é encarar o aporte na sua carteira de investimentos como mais uma despesa mensal, tão importante quanto pagar o aluguel ou a conta de energia, afinal essa é a conta que te ajudará a alcançar seus objetivos financeiros e determinará seu padrão de vida no futuro.
5 - BUSQUE EFICIÊNCIA TRIBUTÁRIA: O imposto de renda é um grande vilão na vida do investidor e é impossível escapar totalmente do leão. Entretanto, existem maneiras de aumentar a eficiência tributária da sua carteira se o investidor se planejar de forma adequada. Seguem algumas dicas:
- Evite trocar seus investimentos o tempo todo, pois em grande parte das aplicações financeiras o imposto de renda é cobrado no ato do resgate. Assim, se você evitar de resgatar um determinado investimento, o valor que seria pago em impostos continuará rendendo juntamente com os demais recursos, gerando um rendimento adicional para o investidor. Soma-se a isso o fato de que vários investimentos têm alíquota de imposto de renda regressiva, cobrando alíquotas maiores quando o recurso é resgatado em um prazo mais curto e menores alíquotas quando o recurso está aplicado a mais tempo;
- Direcione parte do seu investimento de longo prazo para um plano de previdência. Dentre os diversos benefícios de um plano de previdência, está o fato de que a alíquota de imposto de renda é menor do que a de investimentos comuns. Entretanto, isso só vale quando o investidor pretende guardar recursos por um prazo superior a 10 anos, quando as alíquotas caem para 10%;
- Utilize as isenções de imposto de renda existentes no mercado. Existem alguns produtos como LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e Debentures Incentivadas que são isentas de imposto de renda para pessoa física. Vale dizer que os rendimentos desses produtos em geral são menores e o investidor deve compará-los com um produto que cobra IR para avaliar se de fato serão vantajosos. Outra dica importante para quem tem uma carteira de ações é se programar, se possível, para vender menos de R$ 20 mil mensais. Para vendas até esse montante, os lucros serão isentos de imposto de renda para pessoas físicas.
Por fim, o investidor deve ter a consciência de que poucas pessoas enriquecem no mercado, muito menos de forma rápida. Para cada um dos poucos casos de sucesso, existem inúmeros de fracasso. Por outro lado, o mercado é um fantástico instrumento de construção e preservação de recursos no longo prazo. Para investir da formar saudável, deve-se ter que em mente que, para obter sucesso no mercado, assim como em diversas áreas da vida, as habilidades e conhecimentos mais importantes são os mais simples e práticos.
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