Existem diversos fatores que explicam os resultados de uma empresa e, consequentemente, a performance das ações. Uma das filosofias de investimento em ações de maior sucesso ao longo do tempo afirma que o principal objeto de estudo do investidor ao avaliar uma companhia deve ser os aspectos microeconômicos.
Segundo essa filosofia, a dinâmica de competição dentro do setor, qualidade da gestão, inovações tecnológicas, eficiência e outros fatores microeconômicos são os verdadeiros determinantes do valor da companhia no longo prazo. Nessa abordagem, pouco esforço é direcionado para a previsão do cenário macroeconômico. Como a economia é cíclica, se o horizonte de investimentos for suficientemente longo, o que resta para o investidor é o crescimento do lucro da empresa, que é, em maior escala, determinado pelos aspectos micro.
Entretanto, ao observar as variações de curto prazo, é evidente que o cenário macro tem enorme influência nos preços das ações. Variações de taxa de juros, expectativas de inflação e de crescimento do produto exercem grande impacto nas perspectivas de curto prazo de todas as empresas, mas afetam de forma distinta os diferentes setores da economia. É importante frisar que entender como uma empresa específica reage a determinado cenário macro é um exercício que requer grande profundidade e conhecimento sobre as características específicas da companhia, mas existem algumas regras gerais que podem ajudar o investidor.
A primeira noção importante que o investidor deve ter para selecionar ações pensando no cenário macro é a de que existem empresas que são mais e menos sensíveis a alterações no cenário. No jargão de mercado, as empresas cíclicas são aquelas que carregam uma maior correlação com o cenário econômico, tendem a ter expansão de receita em períodos de crescimento e passam por maiores dificuldade em períodos recessivos. Em geral, o consumo dos bens e serviços que essas empresas vendem é sensível a mudanças de renda da população. Alguns exemplos de setores que têm essa característica são os de vestuário, hotéis, restaurantes, lazer, entre outros.
Já as empresas anticíclicas são aquelas que têm sua performance pouco dependente do ciclo econômico. Essas empresas em geral transacionam bens e serviços que têm caráter essencial e que dificilmente deixarão de ser consumidos, mesmo em momentos recessivos. Bons exemplos são empresas do setor de energia elétrica, consumo básico, tratamento de água, etc.
A segunda noção que o investidor deve ter é a de como as empresas são afetadas pelo nível de juros do país. A taxa de juros é um dos indicadores econômicos mais importantes de um país e podem influenciar a performance das ações por dois canais principais: o primeiro e mais intuitivo é o canal do resultado financeiro. Empresas com alto nível de endividamento sofrem mais em um ciclo de alta de juros, pois suas despesas com encargos da dívida aumentam. Em um cenário de juros altos como o atual, o investidor deve ter bastante cautela ao selecionar uma empresa com alto grau de alavancagem, pois esta pode ter grande parte do seu resultado comprometido com o pagamento de juros.
O segundo canal pelo qual os juros impactam o preço das ações é através da taxa de desconto, que, como o próprio nome diz, é a taxa utilizada pelo investidor para descontar os fluxos de caixa futuros de uma companhia, ao realizar a avaliação da mesma. Quando os juros estão elevados, os investidores irão requerer uma maior taxa de retorno para investir na companhia, o que faz com que o valor presente das ações caia.
Entretanto, existem empresas que são mais e menos sensíveis a mudanças nas taxas de juros. Em geral, empresas maduras, consolidadas e que retornam grande parte do investimento feito pelo acionista no curto prazo são menos sensíveis a alterações na taxa de juros do que empresas com premissas fortes de crescimento, em que grande parte do valor entregue ao acionista está em um momento distante no futuro.
Inflação
Por fim, é importante que o investidor tenha também uma boa noção de como as empresas reagem a um ambiente inflacionário.
De maneira simplificada, existem duas perguntas importantes a serem respondidas para entender como a inflação impacta a performance de determinada companhia:
- Como a receita dessa companhia seria impactada em um cenário em que
o preço do bem/serviço que ela transaciona suba de preço?
- Como a margem dessa companhia seria impactada em um cenário em que seus custos de produção e o valor do seu bem/serviço transacionado aumentam?
Para responder a pergunta 1, devemos pensar novamente no nível de essencialidade do bem/serviço que essa empresa transaciona. Companhias que vendem bens/serviços com uma demanda mais estável conseguem aumentar o preço sem afetar significativamente o consumo. Outro fator relevante é o público-alvo da empresa. Os consumidores de renda mais baixa alteram os seus padrões de consumo mais intensamente que os consumidores de alta renda durante processos inflacionários. Assim, empresas que vendem para classes de maior renda tendem a ser menos impactadas em períodos de alta inflação.
Já para responder a pergunta 2, é importante pensar na capacidade que a empresa tem de repassar os seus custos de produção ao consumidor final sem impactar de forma considerável a demanda por seus produtos/serviços. Empresas com marcas fortes e consumidores fiéis ou empresas que estão em um ambiente de baixa competição são mais eficientes em repassar custos e manter margens em períodos de inflação elevada.
É evidente que, em um processo robusto de seleção de ativos para investimentos, o processo de análise abrange diversas outras variáveis e exige um enorme nível de profundidade e entendimento sobre a dinâmica específica de cada empresa. Entretanto, acredito que o uso de regras simples e intuitivas como as descritas neste artigo podem ajudar o investidor ao menos a diminuir o nível de risco da sua carteira de ações em períodos turbulentos como o atual.
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