Formado em Economia pela Fucape e mestre em Contabilidade com foco em finanças e mercado de capitais pela mesma instituição; assessor de investimentos e sócio da Valor

Como investir em um cenário de juros altos e ter mais rendimentos?

Muitos investidores estão buscando readequar seus portfólios de modo a aproveitar os rendimentos mais altos da renda fixa

Vitória
Publicado em 16/03/2023 às 11h02

Com a recente alta da taxa Selic, que atingiu 13,75% ao ano em setembro do ano passado e segue estacionada nesse patamar, muitos investidores estão buscando readequar seus portfólios de modo a aproveitar os rendimentos mais altos da renda fixa. De fato, a mudança do patamar das taxas de juros exige adaptações nas carteiras dos investidores e, neste cenário, alguns ajustes fazem sentido e outros, nem tanto.

O ajuste mais óbvio a ser feito é destinado aos investidores que ainda guardam seus recursos em cadernetas de poupança. Muitos já sabem que a poupança é um investimento ruim, pois rende menos que aplicações de perfil semelhante como o Tesouro Selic, por exemplo. Mas o que nem todos sabem é que a poupança é ainda pior quando os juros estão altos, como no atual momento.

Carteira de investimentos, planejamento financeiro
Mudança do patamar das taxas de juros exige adaptações na carteira de investimentos. Crédito: Divulgação

Isso acontece porque a caderneta de poupança tem sua rentabilidade limitada a 0,5% ao mês, mesmo em cenários em que o juro básico da economia for muito maior que este. Hoje em dia, existem aplicações com baixíssimo risco e alta liquidez que remuneram quase o dobro desta taxa.

Outro ajuste que muitos investidores buscam fazer neste momento é aumentar sua exposição a investimentos que rendem um percentual do CDI, os chamados pós fixados, pois estes foram os investimentos mais beneficiados pela forte alta dos juros.

O último ano e, especialmente, os últimos meses foram marcados por uma forte migração de investimentos em ações, multimercados, prefixados e outras classes de ativos para investimentos pós fixados. Apesar de este ser um movimento que intuitivamente parece fazer sentido, o investidor deve tomar alguns cuidados.

Uma noção importante que o investidor deve ter ao tomar tal decisão é a de que o aumento dos juros influencia o retorno esperado de todas as classes de ativos e não somente os pós fixados. Isso ocorre pois os juros funcionam como uma força gravitacional sobre o preço dos ativos. Eles determinam qual deve ser o retorno básico para um investimento livre de risco e assim, em teoria, ajustam os níveis de retorno esperado para todos os outros investimentos na economia.

Não à toa, os ciclos de alta nos juros coincidem com ciclos de baixa nas ações e vice-versa. A intuição é que, quando os juros estão mais altos, as ações precisam entregar um retorno mais alto para o investidor. Para que o retorno esperado para as ações aumente, os preços precisam cair.

Em grande medida, esse foi o movimento que observamos nos últimos anos no Brasil. Os juros dispararam de 2% para 13,75%, derrubando o preço dos ativos. Mas como em investimentos financeiros o retorno passado não costuma ser um bom preditor do resultado futuro, o investidor que tomar decisões olhando apenas a performance recente dos ativos brasileiros pode estar sendo superficial.

Ao contrário do que muitos imaginam, os melhores momentos para se investir em ativos de risco no Brasil foram quando os juros estavam em patamares elevados. Da mesma forma que o ciclo de alta de juros provocou a queda no preço de diversos ativos, quando os juros voltarem a cair é possível que haja uma forte valorização dos ativos.

É impossível dizer por quanto tempo os juros permanecerão em patamar elevado, mas o investidor que hoje mantém todo o seu recurso em aplicações pós fixadas pode estar deixando de aproveitar as boas oportunidades criadas pelos juros altos, que só se evidenciarão quando o ciclo de juros se inverter.

Assim, respondendo de forma objetiva a pergunta do título, a prescrição para o momento atual para uma carteira de investimentos é a mesma de qualquer outro cenário. Manter uma carteira equilibrada, diversificada em diferentes classes de ativos e aderente ao perfil e objetivos do investidor. A disciplina de seguir essa simples receita é o que evita o comportamento típico de comprar na alta e vender na baixa.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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