Contra tudo e contra todos, a divulgação do PIB do primeiro trimestre do ano nos trouxe surpresas para lá de positivas. No trimestre terminado em março, a economia brasileira expandiu 1,9% em relação ao último trimestre de 2022, surpreendendo as expectativas do mercado, que apontavam para um crescimento de 1,2% na véspera da publicação.
Se considerarmos as expectativas do início deste ano, a surpresa é ainda maior: no relatório Focus divulgado no dia 02/01/2023, a mediana do mercado apontava um crescimento de apenas 0,8% para o ano de 2023. Na divulgação desta semana, a mediana das expectativas já marca 1,68% e deve continuar sendo revisada para cima nas próximas semanas, conforme os agentes de mercado forem incorporando o resultado deste trimestre em suas projeções.
O grande responsável pelo número forte é o mesmo de sempre: o setor agropecuário, com o incrível crescimento de 22% no trimestre. Puxado pela safra de soja que deve ser a maior da história, o Agro compensou a queda da atividade industrial e a desaceleração do setor de serviços.
A composição do PIB reflete, em grande parte, os impactos dos juros restritivos na economia brasileira, mas também exalta como os incentivos corretos e investimentos eficientes podem influenciar a dinâmica de crescimento a longo prazo e aumento de produtividade.
Não é de hoje que o Agro vem aumentando sua participação dentro do PIB, em detrimento, principalmente, do encolhimento do setor industrial. O comportamento da safra de grãos exemplifica bem essa dinâmica: desde os anos 2000, a safra de grãos subiu de 120,2 para 310,6 milhões de toneladas/ano, uma alta de 258%.
No mesmo período, a área plantada passou de 43,7 para 76,7 milhões de hectares, alta de 76,5%. Ou seja, a maior parte do crescimento da produção veio dos ganhos de produtividade conquistados com investimentos em pesquisa, políticas públicas adequadas e, principalmente, da necessidade de ser competitivo a nível global, dado que os preços de commodities são cotados internacionalmente, em sua maior parte.
Do outro lado, a indústria brasileira ficou refém do modelo de crescimento baseado em medidas protecionistas que minaram a capacidade de desenvolver competitividade a nível global. Reflexo disso é o encolhimento da participação da indústria no PIB. A indústria — que chegou a representar quase 30% do PIB no fim da década passada — hoje se aproxima para algo mais próximo de 20% e deve continuar perdendo participação.
Por hora, o resultado deve ser celebrado. O impulso que o resultado do setor agropecuário dá ao PIB nos coloca em posição extremamente favorável. Ao mesmo tempo em que a política monetária faz seu efeito de desacelerar os setores cíclicos da economia para cumprir seu papel de conter a inflação, a boa performance dos setores menos sensíveis à dinâmica doméstica nos mantém com um bom nível de crescimento econômico.
Em outras palavras, aumentaram as chances de controlarmos a inflação sem passar por uma forte desaceleração de atividade, o que é um grande alinhamento dos astros em termos econômicos.
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