Publicado em 7 de fevereiro de 2023 às 12:12
Em meio às reiteradas críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à atuação do Banco Central, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fez um aceno ao governo e reconheceu nesta terça-feira (7), na ata de seu encontro deste mês, que o pacote fiscal anunciado no mês passado pela equipe econômica pode ajudar no combate à inflação.>
Na segunda-feira à noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a dizer que o comunicado do Copom na semana passada "poderia ter sido mais generoso" com as medidas propostas por ele para tentar reduzir o rombo fiscal deste ano. Na ata de hoje, porém, o colegiado destacou justamente o pacote de intenções do ministro.>
"Alguns membros notaram que as medianas das projeções de déficit primário do Questionário Pré-Copom (QPC) e da pesquisa Focus para o ano de 2023 são sensivelmente menores do que o previsto no orçamento federal, possivelmente incorporando o pacote fiscal anunciado pelo Ministério da Fazenda. O Comitê manteve sua governança usual de incorporar as políticas já aprovadas em lei, mas reconhece que a execução de tal pacote atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação", destacou o documento.>
O colegiado avaliou que o efeito líquido da condução da política fiscal sobre a inflação é muito dependente das condições macroeconômicas e financeiras vigentes. "Assim, ao analisar os múltiplos canais, incluindo o movimento nas condições financeiras advindas de juros futuros, e atualizar as hipóteses de trajetória fiscal para incorporar o orçamento sancionado para 2023, o Comitê avalia que as perspectivas para a atividade não tiveram alteração relevante", acrescentou a ata.>
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O Banco Central afirmou categoricamente que as hipóteses consideradas no cenário de referência para a inflação não demonstram convergência para a meta no horizonte relevante de política monetária, na ata do Copom. Mas destacou que a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, como em seu cenário alternativo, por mais tempo cumpre essa missão. >
O BC ainda disse que o fator preponderante para o aumento das projeções condicionais do comitê para a inflação foram a elevação das expectativas de inflação da pesquisa Focus, algo que o comitê observa com preocupação em prazos mais longos. >
Na semana passada, o Copom manteve a Selic em 13,75% pela quarta vez seguida. O cenário alternativo considera que os juros básicos vão ficar nesse patamar por todo o horizonte relevante, que inclui 2023 e, em maior grau, 2024. O BC tem dado ênfase ao horizonte de 18 meses à frente, que agora coincide com o terceiro trimestre de 2024. >
Até a reunião da semana passada, o mercado considerava que o primeiro corte da Selic ocorreria em setembro deste ano, com a taxa terminando o ano em 12,50% e 2024 em 9,50%, conforme o Boletim Focus - que é usado como hipótese no cenário de referência. >
"As projeções condicionais às hipóteses do cenário de referência não demonstram convergência para a meta no horizonte relevante de política monetária, mas a introdução de um aperto monetário mais prolongado, tal como em seu cenário alternativo, gera impacto relevante sobre as projeções em direção à convergência às metas", disse o BC, na ata. >
No documento, o BC ainda disse que suas projeções de inflação subiram em função do aumento de preços administrados e de preços livres, embora o fator com maior impacto tenha sido o avanço das expectativas de inflação. "Com relação às expectativas, o Comitê observa com preocupação o movimento recente nos horizontes mais longos.">
Segundo o colegiado, além do impacto direto que a elevação das expectativas tem sobre as projeções de inflação, o aumento das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação ao exigir maior participação de outros canais da política monetária. >
"Consequentemente, exige uma abertura do hiato do produto maior para se obter uma mesma queda de inflação", disse, em referência à desaceleração da atividade necessária para o controle da inflação. "O Comitê seguirá atento e perseverará até que a ancoragem das expectativas se consolide", repetiu. >
Na ata, o BC também explicou que optou pela manutenção da taxa de juros, reforçando a necessidade de avaliação, ao longo do tempo, dos impactos acumulados a serem observados do "intenso e tempestivo ciclo de política monetária já empreendido".>
Copom
Em ata divulgação nesta terça-feira (7)O colegiado ainda reforçou a mensagem do comunicado da semana passada de que é necessário manter a vigilância, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por um período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação. Repetiu ainda que vai perseverar em sua estratégia até que se consolide a desinflação e a ancoragem de expectativas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos, além de retomar o aviso de que não "hesitará" em reiniciar o ciclo de alta de juros se a desinflação não ocorrer como o esperado. >
O Banco Central destacou, na ata, que a dinâmica dos preços de serviços continua "inspirando atenção" e que o colegiado segue avaliando em que velocidade ocorrerá o processo de convergência. >
A avaliação faz parte da análise do Copom sobre o comportamento das principais determinantes da inflação no período recente em meio aos esforços para analisar se a estratégia de manutenção da Selic, que vinha sendo traçada desde o encontro de setembro seria suficiente para convergência da inflação para as metas.>
Em relação à inflação de serviços, o BC explicou que o foco nesse parâmetro deve-se ao fato de que esse grupo de preços responde à inércia inflacionária e à atividade econômica de forma mais direta. "A inflação de serviços tem apresentado moderação, mas segue em nível incompatível com a meta", disse o BC.>
O colegiado ainda destacou que se espera "que ambos os fatores provoquem menor pressão inflacionária ao longo do horizonte". "De todo modo, tal dimensão continua inspirando atenção e o Comitê segue avaliando a velocidade com que se dará o processo de convergência", completou.>
Outro fator determinante para a trajetória de inflação avaliado pelo BC foi o hiato do produto. O Copom considerou que, conforme sua previsão diante das defasagens da política monetária, "houve uma desaceleração da atividade, do crédito e, mais recentemente, do mercado de trabalho". O comitê notou também que não houve mudança significativa nas perspectivas de crescimento recentemente.>
"Alguns membros ressaltaram que a desaceleração deve prosseguir e é necessária para que os canais de política monetária atuem e ocorra a convergência da inflação para suas metas", ressaltou o BC, denotando o caráter restritivo da Selic para o crescimento econômico, seu objetivo diante da inflação elevada e fora da meta.>
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