Com pressão de alimentos e passagens aéreas, a inflação de outubro ficou em 0,86%, ante 0,64% no mês anterior. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi o maior índice para o mês desde 2002.
Desde janeiro, a inflação medida pelo IPCA acumula alta de 2,22%. Em 12 meses, o indicador chegou a 3,92%, próxima ao centro da meta estipulada pelo Banco Central para 2020, de 4%.
Houve alta em oito dos nove grupos de produtos pesquisados pelo IBGE. A maior variação (1,93%) e o maior impacto (0,39 ponto percentual) vieram, mais uma vez, de alimentação e bebidas, que vêm sendo pressionados pela alta das commodities e pela desvalorização cambial.
A aceleração do preço dos alimentos prejudica sobretudo as famílias de baixa renda, que gastam uma parte maior de seu orçamento com essas despesas.
Em setembro, a inflação dos alimentos foi puxada por tomate (18,69%), frutas (2,59%) e batata-inglesa (17,01%). ?Todos esses itens têm contribuído para alta sustentada dos preços dos alimentos, que foram de longe o maior impacto no índice do mês?, afirma o gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov.
A variação dos alimentos foi menor do que a do mês anterior (2,28%), mas o grupo continua sendo o com maior pressão inflacionária no país desde o início da pandemia. Em 12 meses, o custo da alimentação em domicílio acumula alta de 18,41%.
Em outubro, os alimentos retomomaram o posto de principal componente do índice de inflação, que havia sido perdido para os transportes no início do ano, quando o IBGE passou a fazer o cálculo com base na nova POF (Pesquisa de Orçamento Familiar).
Isso significa que os gastos com alimentação voltaram a representar a maior fatia do orçamento das famílias. No ano, diz o IBGE, o preço do tomate acumula alta de 50%. O arroz já subiu 59,48% e o óleo de soja, 77,69%.
No mês passado, o governo decidiu zerar a alíquota do imposto de importação para o arroz em casca e beneficiado até 31 de dezembro deste ano. Também foi zerada a alíquota de importação da soja e o Brasil já começa a receber cargas vindas dos Estados Unidos.
O segundo maior impacto sobre a inflação veio dos transportes, que teve alta de 1,19% puxada pelo aumento de preços das passagens aéreas (39,83%). Para Kislanov, o resultado está relacionado à retomada da demanda por esse tipo de transporte após a flexibilização do distanciamento social.
Com demanda aquecida após o início da pandemia e a adoção de home office, os artigos de residência também tiveram alta em outubro, de 1,53%, refletindo o impacto da desvalorização cambial nos preços dos eletroeletrônicos e dos artigos de informática.
Já os produtos de vestuário, que sofreram forte queda nas vendas no início da pandemia e agora começam a se recuperar, tiveram alta de 1,11%, superior aos 0,37% registrados no mês anterior.
De acordo com o IBGE, a alta de preços foi generalizada nas 16 regiões pesquisadas. O maior resultado ficou com o município de Rio Branco (1,37%), devido as carnes (9,24%) e o arroz (15,44%). Já o menor índice ficou com a região metropolitana de Salvador (0,45%), influenciado pela queda nos preços da gasolina (-2,32%).
Em setembro, também com forte pressão do preço dos alimentos, a inflação foi a pior para o mês desde 2003.
Nesta quarta (4), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a alta recente da inflação é temporária, e minimizou a duração de todas as frentes de pressão sobre os preços. No entanto, frisou que a instituição "obviamente" monitora o movimento.
Ele ressaltou que a inflação é influenciada especialmente pela elevação do dólar frente ao real, mas ponderou que essa contaminação é pouco expressiva quando se exclui a influência exercida pelos combustíveis.
A moeda americana, porém, vem se desvalorizando ante seus principais pares globais nos últimos dias, desde que Joe Biden, candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, passou a liderar a apuração.
O índice DXY, que mede a força internacional da moeda americana, recua 1,6% desde terça-feira (3), quando o país foi às urnas, no menor patamar desde 1º de setembro. No Brasil, o dólar caiu nesta quinta para R$ 5,5460, baixa de 1,96% em relação ao dia anterior.
Para a Guide Investimentos, o resultado da inflação não deve alterar a estratégia do Banco Central, já que o indicador caminha para fechar o ano abaixo do centro da meta. A corretora acredita que o choque de preços já começa a se dissipar, embora os alimentos possam permanecer caros por mais tempo.
Além disso, diz, há ainda grande descompasso entre a inflação de bens e a de serviços, que indicariam uma recuperação mais forte da economia. Segundo o IBGE, os custos dos serviços ficaram 0,55% mais caros em outubro, mas com grande influência da alta das passagens aéreas.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta