Textos: Diná Sanchotene, Guilherme Sillva, Mariana Perim e Siumara Gonçalves
Foto: Laerte/Reprodução Facebook
Laerte Coutinho é cartunista e chargista brasileira, considerada uma das artistas mais importantes na área no Brasil. Em 2010, aos 58 anos, ela se assumiu como mulher e optou pela prática pública do crossdressing, pessoa que usa roupas associadas ao gênero diferente daquele designado a ela na hora do nascimento.
Defensora e ícone da causa trans no Brasil, em 2012 Laerte fundou a Associação Brasileira de Transgêneras (Abrat). Nesta entrevista exclusiva, a artista detalha como lida com sua mudança de gênero.
Como ocorreu a transição? Foi difícil tomar essa decisão?
A ideia de "transição" é meio estranha para mim. Eu entendi o que era o desejo diferente que sentia e, por causa disso, acho que não precisei "transitar" mais. Não vejo o meu processo como uma sequência de etapas, um caminho progressivo em direção a uma verdade trans ou algo assim. Estou aprendendo, construindo minha expressão dentro da transgeneridade, desde 2004. As etapas dizem respeito ao entendimento dessa transgeneridade. Demorei o tempo que foi necessário, no contexto da minha vida, e ainda vou levar mais tempo!
E como percebeu isso?
Houve primeiro a aceitação da homossexualidade, que escondi por 30 e tantos anos. Depois, no estado de paz pessoal que se instalou, me reconheci na transgeneridade, de modo mais ou menos contínuo.
Quais foram as maiores dificuldades?
A maior dificuldade é sempre a autoaceitação. A partir dela todos o medos se dimensionam, todos os riscos podem ser encarados. Meus parentes, amigos e amigas, sempre me apoiaram e acolheram.
O que você diria para quem passa pela mesma situação?
Acho que não tenho uma fala geral. Cada pessoa enfrenta problemas particulares nesse processo. Para algumas pessoas é relativamente tranquilo, enquanto que, para outras, quase impossível. Repito que a fagulha principal é sempre dentro da gente, e que a clareza dela deve nos abastecer de energia para o que for necessário. Também repito que poder contar com apoio de pessoas queridas e próximas, que nos conhecem bem, é de muita importância - quando isso é possível.
O que mudou em sua vida após essa mudança?
De essencial, nada. Continuo a mesma pessoa. Só mais tranquila, me reconhecendo mais como sou agora.
Você se considera uma pessoa trans?
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Eu sou uma trans, mais do que me considerar. Não é uma condição a que aspiro nem uma posição para a qual esteja me preparando. Eu sou, reconheci em mim a transgeneridade e é o que preciso.
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