O crescimento de apenas 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB valor de todos os bens e serviços produzidos na economia) em 2019, informado nesta quarta-feira, 4, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), frustrou, pelo segundo ano consecutivo, as expectativas de uma retomada mais firme da atividade econômica. O padrão se repetiu em vários anos desta década. Entre os economistas, já há quem chame os anos 2010 de década frustrada. O movimento tende a se repetir este ano, com os efeitos do surto do novo coronavírus como vilão da frustração.
O resultado é menos da metade do projetado inicialmente pelos economistas. Em dezembro de 2018, às vésperas da posse do presidente Jair Bolsonaro, analistas do mercado financeiro renovaram a aposta na retomada e projetaram crescimento de 2,55%.
A desaceleração do PIB de 2019 em relação a 2018 é explicada pela queda nos gastos governo, piora nas exportações e importações e crescimento menor do consumo e dos investimentos, segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
No quarto trimestre de 2019, o PIB cresceu 0,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior, resultado que ficou em linha com a mediana das estimativas dos analistas, que previam de uma elevação entre 0,3% e 0,8%.
Em 2019, primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, a economia cresceu menos da metade do que projetavam analistas e economistas na primeira semana do ano passado as projeções apontavam um crescimento de 2,53%, conforme as estimativas coletadas pelo Banco Central (BC) no Boletim Focus. O mesmo ocorreu em 2018. As projeções começaram o ano apontando para crescimento de 2,69%, mas o PIB acabou avançando apenas 1,32%.
Na comparação com o quarto trimestre de 2018, o PIB apresentou alta de 1,7% no quarto trimestre de 2019. Ainda segundo o instituto, o PIB do quarto trimestre de 2019 totalizou R$ 1,893 trilhão. Com esse resultado, o PIB de todo o ano passado somou R$ 7,257 trilhões.
O Produto Interno Bruto de serviços subiu 1,3% em 2019 ante 2018. No quarto trimestre de 2019, o PIB de serviços subiu 0,6% ante o terceiro trimestre do ano. Na comparação com o quarto trimestre de 2018, o PIB de serviços mostrou alta de 1,6%. Já o PIB da indústria subiu 0,5% em 2019 ante 2018. No quarto trimestre de 2019, o PIB da indústria subiu 0,2% ante o terceiro trimestre do ano. Na comparação com o quarto trimestre de 2018, mostrou alta de 1,5%.
O Produto Interno Bruto da agropecuária, por sua vez, subiu 1,3% em 2019 ante o ano anterior. No quarto trimestre do ano passado, o PIB da agropecuária caiu 0,4% ante o terceiro trimestre. Na comparação com o quarto trimestre de 2018, registrou alta de 0,4%.
O consumo das famílias subiu 1,8% em 2019 ante 2018, segundo o IBGE. No quarto trimestre de 2019, o consumo das famílias subiu 0,5% ante o terceiro trimestre do ano. Na comparação com o quarto trimestre de 2018, o consumo das famílias mostrou alta de 2,1%.
Em 2017, as projeções compiladas pelo BC apontavam para um crescimento de 0,5% na primeira semana do ano, mas a economia acabou avançando 1,32%, mais do dobro do esperado inicialmente. Em todos os outros anos desde 2011, o desempenho efetivo do PIB ficou abaixo do que apontavam as projeções na primeira semana de cada ano.
Barboza fez um estudo mais amplo, considerando não apenas a projeção para um ano, mas para os quatro anos seguintes. O quadro de frustração fica ainda mais claro. No início de 2012, por exemplo, as projeções apontavam para crescimento de 3,30% naquele ano, 4,25% em 2013, 4,50% em 2014 e 2015. Na realidade, o PIB teve as seguintes variações: 1,92% (2012), 3,0% (2013), 0,5% (2014) e -3,55% (2015).
Segundo Barboza, embora algumas projeções possam ser feitas com pouco embasamento, mais na base da torcida, a metodologia para o cálculo das estimativas, com uso de modelos matemáticos ou cenários, é uma tecnologia comum, muito difundida entre economistas - além disso, séries estatísticas recentes e a falta de estabilidade na economia tornam o trabalho de projetar mais impreciso.
A frustração das expectativas estaria mais associada a uma falta de pragmatismo na condução da política econômica do que a um excesso de erros por parte dos economistas. Essa falta de pragmatismo estaria associada à insistência em adotar políticas de estímulo à demanda, na primeira metade da década de 2010, quando havia sinais de que a economia estava aquecida demais, e à adoção do receituário oposto, com o foco exclusivo em reformas de longo prazo, sem qualquer apoio à demanda, quando há sinais de excesso de ociosidade na economia, de 2016 para cá.
Com informações da Agência Estado e Folha Press
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