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PIB do Brasil tem queda recorde de 9,7% e confirma recessão

PIB do Brasil tem queda recorde de 9,7% e confirma recessão

Na comparação com o mesmo período do ano anterior, queda foi de 11,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Publicado em 1 de setembro de 2020 às 09:40

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Coronavírus e o agravamento da crise econômica mundial
Coronavírus e o agravamento da crise econômica mundial. (Divulgação)

Refletindo a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 9,7% no segundo trimestre de 2020, comparado ao primeiro trimestre deste ano, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em relação ao mesmo período de 2019, a retração foi de 11,4%. As quedas foram as mais intensas da série, iniciada em 1996. No acumulado dos quatro trimestres terminados em junho, houve retração de 2,2% em relação aos doze meses anteriores.

A contração recorde na economia marca o auge das medidas de isolamento social adotadas para combater o avanço da doença que já levou a mais de 120 mil mortos apenas no Brasil em  quase seis meses.

O tombo histórico no segundo trimestre, no entanto, foi menor do que as estimativas iniciais, que previam uma retração superior, de até 17,3%. Como marcou dois períodos seguidos de queda, o país está em recessão técnica, segundo os especialistas.

O PIB é o valor de tudo o que é produzido na economia. A queda no segundo trimestre foi tão pior do que em outras crises porque "nunca antes se propôs uma política que fosse desligar a economia", diz Eduardo Zilbermann, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, numa referência às regras de restrição ao contato entre as pessoas, como forma de estancar o avanço da Covid-19.

Em outras crises econômicas - causadas por inflação, desequilíbrios nas contas externas ou bolhas financeiras, etc. -, as empresas entram em dificuldade, suspendem investimentos e demitem funcionários, ou a renda das famílias é corroída, e elas consomem menos.

Como explica Zilbermann, o PIB é uma medida de fluxo, de quanto se produz continuamente ao longo do tempo. Assim, mesmo que a parada para valer tenha ocorrido em abril, o fundo do poço da economia, a reabertura gradual a partir de maio e junho foi insuficiente para salvar o PIB do segundo trimestre, formado por essa produção contínua em cada um dos meses.

O quadro catastrófico só não foi pior por causa das medidas adotadas pelo governo para mitigar a crise, com destaque para o auxílio emergencial de R$ 600 ao mês pago aos mais pobres e aos trabalhadores informais. Desde junho, estudos têm apontado que os pagamentos de emergência chegaram a elevar a renda dos mais pobres, reduzindo, temporariamente, a pobreza. Ainda assim, esse impulso não impediu o tombo de 12,5% no consumo das famílias ante o primeiro trimestre.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale acredita que, além do impulso do auxílio emergencial no consumo, contribuíram para a melhora do quadro a baixa adesão dos brasileiros à quarentena, que manteve alguns comércios funcionando, e o crescimento do agronegócio. O PIB da agropecuária teve o melhor desempenho entre os componentes da oferta, com alta de 0,4% ante o primeiro trimestre.

"Há commodities que não são agrícolas, mas também se beneficiaram do aumento da demanda chinesa e do câmbio, como minério de ferro e também petróleo, num grau menor. Se você junta esses segmentos todos, estamos falando de 35% a 40% do PIB com retorno positivo no primeiro semestre", afirma Vale.

Entre os segmentos, a maior queda foi na Indústria (-12,3%), seguida por Serviços (-9,7%). A Agropecuária apresentou variação positiva de 0,4%. 

Nos Serviços, os resultados negativos foram: Outras atividades de serviços (-19,8%), Transporte, armazenagem e correio (-19,3%), Comércio (-13,0%), Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-7,6%), Informação e comunicação (-3,0%). Por outro lado, houve resultado positivo nas Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,8%) e nas Atividades imobiliárias (0,5%). Pela ótica da despesa, a Formação Bruta de Capital Fixo (-15,4%), a Despesa de Consumo das Famílias (-12,5%) e a Despesa de Consumo do Governo (-8,8%) caíram em relação ao trimestre imediatamente anterior.

Entre as atividades industriais, destacam-se as quedas nas Indústrias de Transformação (-17,5%), na Construção (-5,7%), na atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-4,4%) e nas Indústrias Extrativas (-1,1%).

Já as Exportações de Bens e Serviços cresceram 1,8%, enquanto as Importações de Bens e Serviços recuaram 13,2% em relação ao primeiro trimestre de 2020.

Em valores correntes, o PIB do no segundo trimestre de 2020 totalizou R$ 1,653 trilhão, sendo R$ 1,478 trilhão em Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 175,4 bilhões em Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.

A queda do PIB no primeiro semestre deste ano foi de 5,9% em relação ao mesmo período de 2019. O resultado do período foi puxado pelo desempenho da Agropecuária (1,6%), Indústria (-6,5%) e Serviços (-5,9%).

QUEDA DE 11,4% EM RELAÇÃO AO 2º TRIMESTRE DE 2019 

Comparado ao mesmo período do ano passado, o PIB caiu 11,4% no segundo trimestre de 2020, sendo a maior queda trimestral registrada na série histórica, iniciada em 1996. O Valor Adicionado a preços básicos teve queda de 10,8% e os Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios recuaram em 15,6%.

Entre as atividades, a Agropecuária cresceu 1,2%, em relação ao segundo trimestre de 2019, o que pode ser explicado, principalmente, pelo desempenho de alguns produtos da lavoura que possuem safra relevante no segundo trimestre e pela produtividade, segundo o IBGE.

A Indústria teve queda de 12,7%, a pior da série histórica. O pior resultado foi registrado nas Indústrias de Transformação (-20,0%), outro recorde negativo, influenciado, principalmente, pelo recuo na fabricação de veículos; de outros produtos de transporte; de máquinas e equipamentos; e na indústria têxtil e de artigos de vestuário. O segundo recuo mais intenso veio da Construção (-11,1%), corroborada pela redução da ocupação e da produção de seus insumos.

A atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos apresentou queda de 5,8%, explicada pela queda da economia como um todo. Em contrapartida, as Indústrias Extrativas apresentaram variação positiva de 6,8%, com um aumento da extração de petróleo. A extração de minérios ferrosos continua a cair, porém em taxas menores.

Já Serviços caiu 11,2% em relação ao mesmo período de 2019, a maior queda já registrada na série histórica. Os piores resultados foram em Outras atividades de serviços (-23,6%) e Transporte, armazenagem e correio (-20,8%). Houve quedas em Comércio (-14,1%), Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-8,6%) e Informação e comunicação (-3,2%). Por outro lado, Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (3,6%) e Atividades imobiliárias (1,4%) apresentaram resultados positivos.

A Despesa de Consumo das Famílias teve contração de 13,5%, índice que representa a maior queda registrada na série histórica. Este foi o segundo resultado negativo desta comparação após 11 trimestres de avanço. O índice pode ser explicado pelo isolamento social no país, proibição de funcionamento de algumas atividades especialmente de serviços prestados às famílias, além queda da massa de salarial no país no segundo trimestre de 2020.

A Formação Bruta de Capital Fixo recuou 15,2% no segundo trimestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. A queda é justificada pelos resultados negativos registrados tanto na produção interna de bens de capital quanto na construção. A Despesa de Consumo do Governo teve queda de 8,6% em relação ao segundo trimestre de 2019.

No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços cresceram 0,5%, enquanto as Importações de Bens e Serviços recuaram 14,9% no segundo trimestre de 2020.

RESULTADO MELHOR QUE OUTROS PAÍSES

No cenário de Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultores, a dinâmica global da recessão poderá ditar os rumos da crise. O fato de todas as economias do mundo terem sido atingidas, de forma semelhante e mais ou menos ao mesmo tempo - apenas a China, onde a Covid-19 surgiu, foi atingida um pouco antes -, é uma das características inéditas da crise. Para ele, a recuperação poderá acabar sendo ditada pela dinâmica internacional, que, por sua vez, é marcada pelas medidas de mitigação adotadas pelos principais países.

Por isso, na visão de Borges, o desempenho da economia no Brasil poderá ser melhor do que o dos vizinhos da América Latina, porque os brasileiros não respeitaram a quarentena e pela falta de coordenação na ação dos governos federal e locais - ao custo de mais mortes pela covid-19 - e por causa do tamanho das medidas emergenciais.

Nas contas do Observatório de Política Fiscal do Ibre/FGV, as políticas do governo federal somam 11,5% do PIB - 8,27% do PIB em ações com gastos fiscais e 3,21% do PIB em medidas de "crédito fiscal", voltadas para empréstimos. O pacote está praticamente no mesmo nível do dos Estados Unidos, que soma 11,6% do PIB.

"O pacote de suporte fiscal no Brasil foi muito elevado. Até mais elevado do que se poderia imaginar, dada a situação fiscal", afirma Borges.

Para Zilbermann, da PUC-Rio, a economia brasileira está numa "encruzilhada". Por um lado, no momento mais imediato, as medidas emergenciais impulsionam a economia e podem ajudar na recuperação nos próximos meses. Por outro lado, os gastos públicos associados às medidas ameaçam o equilíbrio fiscal nos próximos anos. Desequilíbrios poderão elevar o risco país e a cotação do dólar e afastar investidores, o que tiraria ímpeto da recuperação da economia.

A saída, segundo o professor, seria o governo sinalizar claramente que a elevação de gastos é temporária, tem data para terminar, e que o equilíbrio das contas voltará no médio prazo.

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Com informações da Agência Estado.

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