O último domingo, 17 de janeiro, é uma data histórica para o Brasil. A imagem da enfermeira Mônica Calazans, 54 anos, recebendo a primeira dose de uma vacina contra a Covid-19 já entrou para a posteridade, com todos os méritos. O tom de cerimônia que cercou o evento no Hospital das Clínicas de São Paulo foi adequado, por marcar o início de um processo ansiado por toda uma população esperançosa, confiante de que o avanço científico é capaz de frear a disseminação do novo coronavírus e permitir que as pessoas comecem a retomar alguma normalidade em suas vidas sem a agonia de perdê-las a qualquer momento, abruptamente, para essa doença que provocou uma reviravolta planetária.
A politização em torno da primazia da vacina acaba sendo coadjuvante para o brasileiro que aguarda o seu momento de ser imunizado, cada vez mais próximo. Quem se manteve atento nos últimos meses sabe discernir, entre os antagonistas, quem investiu na vacina e quem optou deliberadamente pela omissão.
Fato é que o programa nacional de vacinação está sendo colocado nas ruas com a CoronaVac, imunizante que é resultado da parceria entre o Instituto Butantan e a chinesa Sinovac, aprovada para uso emergencial pela Anvisa no domingo ao lado da Oxford-AstraZeneca, desenvolvida no Brasil pela Fiocruz, mas ainda não disponível. Uma tentativa controversa do governo federal de trazer 2 milhões de doses da AstraZeneca fabricadas na Índia fracassou na sexta-feira (15).
Nesta segunda-feira (18), o Ministério da Saúde fez a entrega simbólica de mais de 4,6 milhões de doses da Coronavac aos Estados. Mas durante todo o dia as informações sobre o início oficial da vacinação permaneceram desencontradas, com o governo federal ainda buscando soluções logísticas de última hora para enfim começar a vacinar os primeiros grupos: os voos para a entrega concreta das vacinas aos entes sofreram várias alterações de horário.
O improviso se mostra patente. Faltam, inclusive, diretrizes para determinar uma escala de prioridade entre os 5 milhões de profissionais de saúde do país, diante do número insuficiente de vacinas disponíveis. Mas nem esses deslizes reduzem a emoção de se testemunhar a vacinação começando a acontecer.
E o Espírito Santo já deu seu primeiro passo: por volta das 18h desta segunda-feira, avistou-se no céu o voo da esperança, com a chegada do avião que trouxe a primeira remessa de vacinas para o território capixaba. Às 20h20, a técnica de enfermagem Iolanda Brito recebia a primeira dose da vacina no Espírito Santo, no Hospital Jayme dos Santos Neves, na Serra. Assim, com outros quatro profissionais de saúde vacinados em seguida, o Estado inaugurou seu processo de imunização emergencial.
A chegada das doses para os grupos prioritários da primeira fase (profissionais de saúde, indígenas em seus territórios, pessoas com deficiência institucionalizadas e pessoas com mais de 60 anos em instituições para idosos) é o início de uma jornada que deve se prolongar por todo o ano, e nesse sentido a vacina não pode ser tratada como mágica: o encaminhamento da vacinação não extingue imediatamente os cuidados que vêm sendo tomados para evitar o contágio.
Os resultados da eficácia da CoronaVac são um indicativo precioso disso: o seu maior trunfo, com os dados divulgados até o momento, é evitar os casos mais graves da Covid-19, aqueles que necessitam de internação e leitos de UTI. É dessa forma que será possível tratar com eficiência aqueles que ainda adoecerem, sem sobrecarregar o sistema de saúde. A vacina vai evitar mortes. Tragédias como a de Manaus, se não houver negligência deliberada, também serão evitadas.
É preciso continuar confiando na ciência e nos seus métodos, confiando na palavra daqueles que se dedicam a compreender a ação desse vírus com pesquisa e estudo. As duas vacinas foram aprovadas em caráter temporário, até que recebam o registro definitivo no país, justamente para começar a proteger os mais vulneráveis e acelerar o processo de cobertura vacinal. Para a população em geral, nada muda, por ora: distanciamento social, uso de máscaras, higiene e, sobretudo, bom senso continuam sendo essenciais para se proteger.
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E mesmo quando a massa populacional começar a ser vacinada, algo que ainda não possui data prevista, será necessário manter a consciência coletiva de que por algum tempo os cuidados continuarão fazendo parte da rotina. A vacina é um escudo poderoso e confiável, que paulatinamente vai melhorar o ambiente, permitindo mais interações sociais e a retomada da atividade econômica, tão fundamental para que o país volte a respirar, metafórica e literalmente. O primeiro passo para isso foi dado neste histórico 17 de janeiro.
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