Na semana passada, às vésperas do fim de semana no qual há mais de 20 anos é festejado o Carnaval de Vitória, no Sambão do Povo, um ensaio fotográfico realizado pelo fotógrafo Vitor Jubini neste jornal mostrou o vazio causado pela pandemia nos cenários tradicionalmente efervescentes desta época do ano na cidade.
Os barracões e a avenida despidos do colorido e das pessoas que movimentam o desfile das escolas de samba. "Mas chegou o carnaval, e ela não desfilou..." Bem mais melancólica do que a letra de Benito de Paula foi a realidade: ninguém desfilou.
E o feriadão que seria de carnaval começa com a mesma levada: triste, mas necessária. A crise sanitária impede neste 2021 que os foliões coloquem o bloco na rua, e espera-se que o bom senso dite o ritmo. É lamentável constatar que o anúncio da pandemia pela OMS em breve completará um ano: para muitos, o carnaval de 2021 marcaria a celebração esfuziante do fim desse pesadelo.
Mas, mesmo com a vacinação em marcha lenta no país em função da incompetência federal, é preciso manter o otimismo. Os brasileiros têm sido os "mais valentes nessa luta do rochedo contra o mar" diante de tantos sobressaltos. Resguardar-se neste carnaval é proteger a si próprio e aos outros e, mais ainda, um investimento no carnaval do próximo ano.
No Espírito Santo, as prefeituras dos principais redutos carnavalescos estão com esquema de vigilância programado, pelo menos oficialmente. Algumas lançaram mão de decretos, estipularam multas... tudo para evitar aglomerações nas ruas. O verão já mostrou que a tarefa não é fácil, mesmo quando há fiscalização atuante.
Blocos estão proibidos, ambulantes e carros de som serão punidos, mas não há nada que possa ser feito quanto ao direito de ir e vir das pessoas. Por isso, a decisão de se proteger é sempre individual. Este carnaval tão atípico pode ser a oportunidade de rasgar a fantasia do egoísmo em nome do bem coletivo. Carnaval é a celebração da união, do encontro, e infelizmente neste ano não há condições de ser concretizada sem riscos.
E o carnaval faz falta também para a economia, uma época do ano em que muita gente, na informalidade, aproveita para conseguir uma renda complementar. A folia movimenta o setor de serviços, o turismo e toda uma cadeia paralela que aproveita o período para lucrar. Vitória é o exemplo de cidade que vinha conseguindo se firmar com blocos organizados ao longo dos quatro dias, recebendo um maior fluxo de turistas. Não há que desanimar, em 2022 o jogo tem tudo para virar.
O primeiro ano sem carnaval de uma geração torna 2021 inesquecível. O extravaso foi adiado, não cancelado. Que a vacina chegue a um número cada vez maior de pessoas para que outros carnavais sejam possíveis. Mesmo que fora de época...
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