
2024 foi o ano em que os valores das exportações de café pelos portos capixabas (US$ 2 bilhões) mais se aproximaram das vendas externas de minério de ferro (US$ 3 bilhões) e ultrapassassaram a de ferro e de aço (US$ 1,8 bilhão). Há todo um contexto que explica esse cenário inesperado, com a alta do preço do café ao longo do ano com as restrições da oferta do produto em países concorrentes, como Vietnã e Indonésia, por efeito do clima.
Mas fato é que o café produzido no Espírito Santo está fazendo história, justamente porque tem história. O Estado é o segundo maior produtor nacional. E está sabendo se reinventar e aproveitar as evoluções técnicas, para atingir padrões de qualidade internacionais. Podemos dizer que os melhores cafés brasileiros são capixabas: no ano passado, o "Coffee of the Year 2024" teve produtores em todas as posições do pódio da categoria "Canéfora" e nos 1º e 3º lugares da categoria "Arábica".
A trajetória dos produtores rurais de Jerônimo Monteiro, no Sul do Estado, Antônio César Landi e Ana Lúcia de Castro Landi, que ficaram em primeiro lugar na categoria "Canéfora", ilustra bem essa evolução. Nos últimos dez anos, investiram em produtividade, com mudanças na mão de obra e na colheita, e em qualidade. "Fazer café de qualidade hoje, pra gente, é quase um vício. A gente não consegue falar que vai produzir somente o café tradicional. Já temos esse olhar de não fazer qualquer café", disse a produtora em entrevista ao g1 ES e à TV Gazeta.
Como eles, muitas das propriedades rurais dedicadas ao cultivo do café no Espírito Santo também investem em um café diferenciado, que consiga ser competitivo. Os avanços qualitativos fortalecem a imagem dos grãos por aqui, aperfeiçoando o conceito de terroir: um produto influenciado pelas condições do solo e do clima, com características peculiares em função disso, do sabor ao aroma. O café capixaba, conilon ou arábica, já é apreciado nos mercados mais exigentes.
O setor está conectado às demandas desses consumidores, com o aprimoramento das técnicas de produção e processamento dos grãos. É esse processo que estimula o conhecimento e a profissionalização, com o desenvolvimento de uma cadeia produtiva que gera empregos em diferentes áreas. O café é um estimulante para a economia.
Os números superlativos na exportação do café capixaba mostram que é preciso aproveitar a onda, com investimentos em tecnologia que amplie a capacidade produtiva. Em fevereiro, a coluna de Abdo Filho alertou que a previsão de falta de máquinas para a colheita deste ano. Um cenário complicado diante também da escassez de mão de obra.
Assim como não se pode descuidar da logística. No ano passado, os exportadores de café e rochas fizeram reclamação formal sobre o gargalo no Porto de Vitória. Ao mesmo tempo, o Portocel, localizado em Barra do Riacho, Aracruz, realizou o primeiro embarque de café de sua história. Para que o café capixaba fique cada vez mais competitivo, essa cadeia de escoamento precisa fluir sem percalços. O produto tem tudo para ir cada vez mais longe.
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