A resposta que o Brasil precisa dar a Trump

Para o presidente recém-empossado, os Estados Unidos não precisam do Brasil e da América Latina. Há uma forma de responder à altura

Publicado em 21/01/2025 às 22h00
Donald Trump assinou dezenas de ordens executivas no primeiro dia de mandato
Donald Trump assinou dezenas de ordens executivas no primeiro dia de mandato. Crédito: @WhiteHouse / X / Reprodução

A volta de Donald Trump à Casa Branca  marca também o retorno da política diplomática dos "sincericídios". Trump é um falastrão e fez questão de não se importar com respostas mais elaboradas às perguntas sobre o Brasil e a América Latina da jornalista da Globonews Raquel Krähenbühl. "Não precisamos deles, e o mundo todo precisa de nós", desprezou o presidente.

Um desprezo que, diga-se, vale para direita e para a esquerda brasileiras, para lulistas e para bolsonaristas: é a nação que não importa, sobretudo como parceiro comercial. Porque são os interesses econômicos que de fato regem as relações internacionais, as diferenças ideológicas acabam sendo tratadas com pragmatismo quando as cifras saltam aos olhos.

É óbvio que o Brasil precisa dos Estados Unidos nesse aspecto, e a fala de Trump coloca as cartas na mesa. 

A resposta da diplomacia brasileira tratou a declaração de Trump com prudência. "Ele [Trump] pode falar o que ele quiser, ele é presidente eleito dos EUA. Vamos analisar cada passo do governo, mas como somos um povo com fé na vida, vamos procurar apoiar e trabalhar não as divergências, mas as convergências, que são muitas", disse  a secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, embaixadora Maria Laura da Rocha. Melhor assim, sem estremecimentos.

Porque a resposta que o Brasil deve dar aos Estados Unidos está aqui dentro de seu próprio território: encaminhando as soluções para os problemas estruturais que afligem a nação, e não são poucos. Ninguém deseja a imposição de barreiras comerciais pela nova gestão da Casa Branca, mas se elas se concretizarem o país precisa estar fortalecido, para reduzir os impactos macroeconômicos. 

A agenda é velha conhecida: para início de conversa, promover uma organização fiscal realmente transformadora, que promova o crescimento econômico sustentável, abandonando os voos de galinha que não tiram o país do lugar. O Brasil precisa construir a sua credibilidade, para atrair mais investimentos. Inflação alta, juros nas alturas, as raízes dos problemas brasileiros estão todas no mesmo lugar.

Também há outras dívidas sociais que precisam ser sanadas, em qualquer projeto de fortalecimento nacional. A educação segue sendo prioridade, inclusive de investimentos (esses, sim, essenciais). A construção de um capital humano que seja capaz de encarar os desafios profissionais deste milênio começa na sala de aula. Uma população educada e preparada para o mercado de trabalho diminui os espaços para a expansão da violência, nossa principal tragédia social.

É no trabalho silencioso, mas compromissado com a construção de um país mais rico e mais justo, que o Brasil pode responder à altura ao desprezo do presidente dos Estados Unidos. É uma resposta que não será imediata, mas que precisa começar a ser efetivamente preparada. Uma resposta aos brasileiros, de fato.

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