Como não se deixar levar pela euforia com as expectativas de, ainda em 2020, haver uma vacina para conter a proliferação da Covid-19? Não é algo corriqueiro na breve história da imunização humana que uma doença infecciosa leve tão pouco tempo para começar a ser aplacada. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima um prazo maior, de 12 a 18 meses. Em qualquer dos cenários, a velocidade será inédita, resultado de uma verdadeira força-tarefa científica.
A perspectiva é otimista, mas não é fortuita. Não são a sorte e o acaso que estão deixando o planeta mais perto de refrear a pandemia, mas a aposta na ciência. Sem pesquisa e investimento, público e privado, a jornada seria consideravelmente mais longa. O retorno científico quase nunca é imediato, e aos olhares ignorantes é um empenho que pode parecer despropositado, em tempos de menos urgência. O novo coronavírus tem provado o contrário.
A vacina da Universidade de Oxford, a mais promissora entre as centenas de empreendimentos acadêmicos, laboratoriais e farmacêuticos ao redor do planeta com o propósito de proteger a população contra o novo coronavírus, não está na dianteira por acaso.
Os estudos britânicos levam vantagem justamente porque já havia o envolvimento no desenvolvimento de uma vacina similar para a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), causada por outro tipo de coronavírus detectado na Arábia Saudita em 2012. Uma pesquisa de quase uma década, portanto. Justamente a duração mais comum do processo de experimentação e aprovação para tornar uma vacina viável, dentro de parâmetros de segurança.
A OMS afirma que 13 projetos de desenvolvimento de imunizantes em todo o mundo já atingiram o estágio clínico, quando são realizados testes em humanos. Contudo, somente a vacina da Universidade de Oxford chegou à fase III, a etapa final antes de ser submetida às autoridades regulatórias. Nesse terceiro estágio, a testagem é realizada no ambiente natural da doença.
É o que está em curso no Brasil, com profissionais da saúde que atuam na linha de frente do combate à Covid-19 em São Paulo como voluntários. Além de Oxford, uma companhia chinesa também vai testar sua vacina no Brasil. A iniciativa europeia firmou parceria com a Universidade Federal de São Paulo; enquanto a firma chinesa está associada ao Instituto Butantan, que ficará encarregado da produção no país, caso a vacina seja aprovada. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem monitorando as iniciativas de vacina contra o novo coronavírus e também deve se envolver na fabricação, com acordos de transferência de tecnologia já encaminhados.
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A esta altura, com a pandemia ainda incontrolável no país, as doses de otimismo com os progressos no campo da imunização ainda não fornecem certezas, apenas a confiança no envolvimento de pesquisadores e gestores, públicos e privados, na concretização desse mecanismo de defesa engendrado pelo homem. E isso não é pouco. Pode ser que se demore um pouco mais para se conseguir uma vacina segura, mas o esforço científico testemunhado por esta geração terá certamente um lugar cativo na história humana.
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