Não há dissonância no discurso do governo estadual com as sinalizações de um possível lockdown coexistindo com os anúncios de reabertura do comércio, mais especificamente a dos shoppings na última segunda-feira (1). Desde o início da pandemia, o governo Casagrande tem mostrado capacidade de gestão da crise sanitária, mesmo órfão de uma coordenação nacional.
A implantação da matriz de risco tem sido crucial para estabelecer os critérios de estabelecimento ou não de atividade econômica nos municípios. É a bússola para essas decisões.
Fato é que o comércio acabou sendo o setor mais sacrificado com a quarentena, e a matriz de risco permite uma modulação do seu funcionamento de acordo com o número de casos. A reabertura gradual das lojas e de serviços, com contrapartidas obrigatórias, não derruba a imposição do isolamento. O lockdown, como afirma acertadamente o governo, permanece à espreita, em caso de explosão de casos ou colapso do sistema de saúde. Em bom português, o confinamento compulsório pode vir a ser adotado caso a situação saia de controle.
As duas decisões não se anulam, elas podem vir a se suceder, de acordo com o cenário. O que precisa ficar evidente para a população é que a abertura do comércio ou dos shoppings não é um salvo-conduto. O distanciamento social permanece como regra, mesmo que não seja sob a forma da lei.
É o comportamento das pessoas que vai ditar o destino do enfrentamento da pandemia, pelo simples fato de que, se a vida voltar a ser como era antes de março, o número de casos vai inevitavelmente subir, abrindo as portas para que se decrete o lockdown, que ironicamente trancará todas elas.
A civilidade é o que tem feito a diferença em todos os países que estão conseguindo domar seus casos de Covid-19, mais até do que o ordenamento estatal. Ainda não é o caso por aqui, quando dificilmente se atingiu 70% de isolamento. E o número de mortes não para de crescer. Nesta terça-feira (02), o Espírito Santo registrou 36 em 24 horas, o mais recente recorde. O Brasil também superou a marca anterior em um dia, ao chegar a 1.262 perdas para a Covid-19.
As especificidades brasileiras precisam ser consideradas no enfrentamento, principalmente por se tratar de um país que ainda não havia superado a crise econômica antes do desembarque do novo coronavírus. Mas qualquer decisão se torna inócua sem um gerenciamento nacional, que dê o exemplo, e o engajamento da população, da adoção da máscara como um acessório indispensável ao empenho com o isolamento social.
Os shoppings estão abertos para as necessidades, não para o lazer. Assim como todos os serviços com permissão para o funcionamento. Ficar em casa, quando possível, não deixou de ser prioridade com a volta do comércio. Assim como o home office nas empresas e órgãos públicos que podem continuar a adotá-lo.
A gestão da rede hospitalar pelo governo tem se mostrado eficiente, alinhada às aberturas graduais, com suas regras rígidas, que incluem horários de funcionamento, restrição de atendimento e itens de segurança obrigatórios. A fiscalização, contudo, precisa funcionar, para que essas imposições não fiquem só no papel. É uma responsabilidade que cabe aos municípios e também ao Estado.
Este vídeo pode te interessar
O Palácio Anchieta possui desde o início uma linha de pensamento que continua sendo seguida. A reabertura gradual tem a sua lógica no modelo encampado pelo governo estadual, não é um disparate. Mas só será bem-sucedida, sem danos à saúde pública, com o compartilhamento das responsabilidades entre as esferas públicas, do nível municipal ao federal, e com a consciência da população de que ficar em casa ainda é a única proteção, para quem tem essa escolha. Enquanto durar a pandemia, shopping não será um lugar de passeio, nem qualquer outro estabelecimento comercial. Não há normalidade para tanto.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.