Em um intervalo de 24h, entre domingo (24) e segunda-feira (25), o Espírito Santo registrou três acidentes com mortes em suas rodovias. Em um deles, quatro pessoas perderam a vida e três ficaram bastante feridas quando uma van saiu da pista e bateu em uma árvore, na BR 259, em João Neiva. Uma outra tragédia, menos óbvia, mas nem por isso menos dramática, subjaz ao acidente: a dura saga de pacientes que saem de vários pontos do Estado para conseguir atendimento médico na Capital.
O veículo que saiu de João Neiva às duas da manhã levava idosos para Vitória, onde fariam cirurgias oftalmológicas, informação confirmada pelo secretário de Saúde do município do Norte do Estado. A peregrinação constante em busca de consultas, exames e cirurgias não atinge apenas procedimentos de alta complexidade, mas também serviços mais comuns, desnudando a baixa capilaridade da saúde pública no Espírito Santo.
Além do sofrimento dos pacientes e acompanhantes, que encaram horas de viagem e de espera nos hospitais da Capital, há ainda o custo com as transferências para as administrações públicas. Esse cenário faz parecer que a saúde nem é um direito do cidadão, mas sim um privilégio.
Antes de conseguir atendimento, no entanto, é preciso enfrentar as perigosas estradas do Espírito Santo. Nelas, o já conhecido trinômio fatal formado por imprudência, negligência e imperícia soma-se à péssima condição das vias. A mais recente pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) apontou que a qualidade das rodovias brasileiras piorou no último ano.
No Espírito Santo, mais da metade das estradas é considerada ruim ou péssima quanto à geometria da via, indicador crucial para o conforto e a segurança dos motoristas. Dos 1.400 quilômetros avaliados no Estado, menos de 100 foram considerados ótimos, todos em trechos sob concessão.
É a triste realidade da BR 262, que completou 50 anos na segunda-feira (25) sem ter o que comemorar. A rodovia enfrenta grandes problemas estruturais, agravados pelas recentes chuvas, sem perspectiva de recursos para duplicação, após rescisões de contrato e leilões de concessão frustrados.
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Acidente de trânsito é um problema multicausal e pede políticas transversais, que passam pela conscientização, pela fiscalização e pela diminuição de tráfego nas vias – como é o caso da transferência de pacientes. Mas o ponto fulcral é a infraestrutura das vias. A falta de duplicação, o traçado sinuoso e ausência de área de escape estão entre os grandes responsáveis pelas mais de cinco mil vidas perdidas todos os anos no país. É preciso inteligência administrativa e vontade política para acertar o rumo.
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