Acrobacias e alta velocidade: exibicionismo em motos coloca vidas em risco

É incompreensível que alguns motociclistas se sujeitem ainda mais aos perigos do trânsito, em situações como as testemunhadas no último fim de semana envolvendo abuso de velocidade e irresponsabilidade

Publicado em 19/05/2021 às 02h00
Moto
Homem se arrisca na Terceira Ponte, em manobra proibida com moto. Crédito: Leitor

Se a violência no trânsito é comprovadamente mais brutal para quem está sobre duas rodas, pela própria exposição vulnerável do motociclista diante de veículos mais robustos, quando se adiciona o componente da imprudência deliberada, os riscos são multiplicados. De janeiro a março deste ano, o número de mortes em acidentes envolvendo motos no Espírito Santo teve um crescimento de 8,2%, comparado com o mesmo período de 2020. Foram 79 vítimas em três meses. É incompreensível que alguns motociclistas se sujeitem ainda mais ao risco, em situações como as testemunhadas no último fim de semana envolvendo abuso de velocidade e irresponsabilidade.

A Rodovia do Sol, ao que parece, se transformou em cenário da franquia "Velozes e Furiosos", com os limites impostos pelas leis de trânsito sendo tratados como um item decorativo ou algo a ser seguido apenas pelos reles mortais. Motociclistas que possuem máquinas supervelozes,  que podem atingir até 300km/h, não são semideuses e não têm salvo-conduto para atingir altas velocidades, fazendo com que avenidas e rodovias sirvam de pistas de testes para suas motos esportivas. O abuso de velocidade em vias públicas coloca em risco os próprios condutores e quem estiver no caminho.

Os flagrantes de motociclistas "voando" na pista se tornaram comuns pelos usuários da via e mobilizaram agentes do Batalhão de Polícia de Trânsito da PM (BPTran) a realizarem uma operação, no último domingo (16), para abordar quem atinge altíssimas velocidades no trecho que liga Vitória a Guarapari. Com base nas denúncias, foi realizado um trabalho de inteligência que mostrou que os motociclistas utilizam a pista para explorar a velocidade de suas motos. Fazem de uma via pública um autódromo, colocando vidas em risco. 

Na blitz, o BPTran abordou 39 motociclistas e foram distribuídos 14 autos de infração, com registros de condução sem CNH e com descarga aberta (livre), entre outras irregularidades. Um dos motociclistas fugiu, lançando a moto em cima de um dos policiais. Para reconhecer e responsabilizar o infrator, imagens do sistema de monitoramento da rodovia serão utilizadas.

E não é só na Rodovia do Sol: na Grande Vitória não é difícil encontrar motociclistas em motos potentes, acelerando ao máximo em avenidas movimentadas. O barulho é ensurdecedor e chama a atenção de quem está ao redor.

Na véspera, um flagrante de imprudência viralizou na internet: um motociclista conduzia seu veículo em pé, como um acrobata, enquanto era filmado por outro homem em uma moto. A acrobacia foi registrada na Terceira Ponte, um exibicionismo desmedido e sem sentido. Testemunhas disseram que os dois protagonistas do vídeo faziam parte de um grupo de motociclistas que aparentemente se organizou para garantir o espaço para a manobra arriscada. O Código Brasileiro de Trânsito considera exibir manobra perigosa uma infração gravíssima, o que não impediu a prática. Para piorar, a Rodosol afirmou que as câmeras de segurança não conseguiram registrar as placas dos infratores.

Tanto se fala na irresponsabilidade da associação entre álcool e direção, uma combinação explosiva para a ocorrência de acidentes, mas é preciso reforçar também essa inconsequência aparentemente sóbria e completamente insensata. Sujeitar-se ao perigo pelo prazer do exibicionismo, para expor a própria ousadia ou a potência de suas máquinas, acaba tendo a mesma gravidade de dirigir embriagado. O Código Brasileiro de Trânsito tem regras e punições para os abusos, mas elas precisam ser aplicadas com rigor. Para tanto, a fiscalização precisa se fazer presente. A impunidade, mais uma vez, é o motor da irresponsabilidade. 

Ao comprar uma supermoto, o motociclista precisa ter a consciência de que não poderá desfrutar de todo o potencial dela em vias públicas, por estar sujeita às mesmas regras de trânsito de quem possui motocicletas mais simples.  E não se pode generalizar: nem todos os proprietários de motos são irresponsáveis, sabem que devem exercer seu papel de cidadão no trânsito.  Muitos são, inclusive, vítimas da imprudência alheia. Quem quer velocidade e adrenalina pode se tornar oficialmente um competidor.  Sempre bem longe das ruas.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Terceira Ponte Código de Trânsito motocicleta rodovia do sol trânsito

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.