Mais uma morte brutal, mais uma interrupção abrupta de uma vida no trânsito. Mais uma, mas não a última. Desde sexta-feira (15), quando a modelo Luísa Lopes, de 24 anos, foi atropelada, arrastada e morta enquanto atravessava com sua bicicleta a Avenida Dante Michelini, em Vitória, a violência nas vias e rodovias do Estado não deu trégua.
Uma mulher não resistiu ao capotamento de um carro em Sooretama na madrugada de domingo (17), assim como um motorista não sobreviveu após seu caminhão tombar na BR 101, em Rio Novo do Sul, na manhã desta segunda-feira (18). Isso só para ficar em dois casos.
São mortes que chocam, transtornam, mas ao mesmo tempo parece que a sociedade se mantém anestesiada. É como se não houvesse saída, sendo que a barbárie no trânsito emerge dessa mesma sociedade. A imprudência que toma conta de ruas, avenidas e rodovias é resultado das escolhas de cada pessoa: motoristas, motociclistas, ciclistas ou pedestres. Todos devem contribuir, com aquilo que está ao seu alcance, no cumprimento das regras de trânsito, para evitar acidentes. Redução de riscos.
Mas o que uma pessoa que consome bebida alcoólica e assume o volante pode querer além de expor terceiros ao risco? O atropelamento da jovem modelo na Praia de Camburi ainda precisa ser esclarecido, mas as imagens da principal suspeita após a tragédia provocam indignação porque expõem essa negligência, um comprovado descaso com a vida alheia. A corretora Adriana Felisberto, embora tenha recusado fazer o teste de etilômetro, foi autuada em flagrante por embriaguez e deixou o sistema prisional sob fiança, reduzida de R$ 5 mil para R$ 3 mil.
É conveniente que as imagens do acidente, flagradas por câmeras de videomonitoramento, sejam divulgadas, para auxiliar nesse esclarecimento. Vídeos e fotos se tornaram imprescindíveis ferramentas de comprovação de crimes de trânsito, e nesse caso podem tirar dúvidas sobre a dinâmica do acidente e se havia mais um veículo envolvido, como alega a defesa.
Uma nova resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), inclusive, será crucial para consolidar as câmeras como ferramentas de fiscalização e punição no trânsito. Desde 1º de abril, agentes de trânsito e autoridades policiais passaram a ser autorizados a fazer autuações a quilômetros de distância, com o uso das imagens das câmeras. Uma forma de inibir posturas perigosas para o trânsito, como falar ao celular na direção.
A repressão, com ampliação da vigilância, é um caminho que pode provocar mudanças de comportamentos de risco no trânsito. Como foi defendido recentemente neste espaço, é importante que as fiscalizações não sejam abandonadas. Blitze nas ruas são uma estratégia que comprovadamente dá certo, no Brasil ajudaram a construir uma nova cultura no trânsito após a Lei Seca, em 2008. Mas está claramente havendo um retrocesso.
Luísa Lopes foi vítima de um sistema de trânsito no qual ainda impera a covardia. Há um ano, uma outra jovem, Amanda Marques, também perdeu a vida em um acidente, em Vila Velha. O condutor do carro que atingiu a moto em que ela estava com o namorado também se recusou a realizar o bafômetro, mas foi autuado por embriaguez e segue preso preventivamente. Ainda não há previsão de data para o julgamento.
A legislação brasileira tem sofrido modificações para enquadrar comportamentos nocivos como beber e dirigir: o novo Código de Trânsito Brasileiro proibiu a substituição de pena de prisão por penas restritivas de direitos quando essa situação provoca lesões corporais ou morte. Para que a justiça seja feita, contudo, os processos precisam de celeridade. É o que se espera do caso Luísa Lopes e de todos os que acontecem com uma frequência inaceitável: investigação rigorosa, julgamento rápido.
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