Dois pais, o mesmo sentimento. Dois crimes recentes na Grande Vitória provocaram reações parecidas nos pais das vítimas, que são importantes reflexões sobre o status da violência no Espírito Santo.
No dia 16 de março, Moisés, de 24 anos, foi assassinado perto de uma escola em Ilha da Conceição, em Vila Velha. Uma morte que entraria para as estatísticas como mais um número, não fosse a reação do pai do jovem em entrevista à TV Gazeta. Segundo ele, o filho havia sido preso por tráfico de drogas e estava no regime semiaberto. "Ele [Moisés] continuou se envolvendo com o tráfico, saiu da cadeia se envolvendo, e eu pedindo a Deus para ele não continuar. Eu disse: 'Meu filho, você sabe o que o espera: a cadeia ou a sepultura'", desabafou o pai, identificado como Ataíde.
Um outro pai de família passaria pela mesma dor uma semana depois, no dia 24. O pastor Márcio da Vitória perdeu o filho Mateus Silva, de 20 anos, que foi morto a tiros em um campo de futebol de São Pedro, Vitória. O desabafo foi igualmente doloroso: "As amizades influenciaram, levaram ele a tomar caminhos tortuosos. O fim dele é esse aí. É a sepultura".
Essas duas histórias não são muito diferentes de boa parte dos 245 homicídios registrados no Estado neste primeiro trimestre de 2022. Nem daqueles que figuraram nas estatísticas de 2021, 2020, 2019... o perfil dos crimes contra a vida está relacionado majoritariamente ao envolvimento com o tráfico de drogas.
Um ciclo interminável dentro de um sistema que não abre portas para os jovens e os empurra para o crime, no qual, além de terem acesso ao dinheiro, também podem sentir o gosto de um poder inacessível a eles pelos caminhos legais.
É tão explícito o problema, e não vale reduzi-lo apenas a questões de índole. É simplório tratá-lo por esse viés. A falta de oportunidades que se tornou endêmica no país reforça essa realidade na qual jovens, mesmo com famílias atuantes em suas vidas, escapam para uma vida à margem da lei que facilite o acesso aos prazeres que são negados a eles. A família e a escola não têm como competir.
E é justamente esse o problema. O Estado brasileiro não consegue garantir educação de qualidade que estabeleça um elo com esses jovens. Para um exército de adolescentes, qualquer lugar é melhor do que a sala de aula, e isso é a ruína de uma sociedade. Enquanto o país não conseguir abraçar sua juventude, muitos pais e mães ainda vão chorar por seus filhos. Neste ano de 2022, aqueles que brigam por candidaturas dentro de seus partidos deveriam reunir o mesmo empenho, se eleitos, para começar a transformar a jornada desses jovens.
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