O voto de cabresto era uma prática comum no Brasil, sobretudo nas zonas rurais, na qual a escolha dos candidatos não era uma decisão própria de cada um, mas uma determinação das lideranças políticas locais, que abusavam da ignorância e da pobreza da população para manipular as eleições. A democracia brasileira evoluiu a ponto de relegar esse passado aos livros de história, e as ocorrências passaram a ser pontuais, não mais sistematizadas.
É por isso que o assédio eleitoral que se testemunha neste segundo turno causa tanta indignação: ele é uma atualização do voto de cabresto, dadas as devidas proporções e circunstâncias. No Espírito Santo as denúncias praticamente triplicaram. Até o primeiro turno das eleições, foram 11 denúncias contra quatro empresas feitas ao Ministério Público do Trabalho (MPT). No segundo turno, até o último dia 20, o MPT havia recebido 19 denúncias contra 11 empresas.
Nacionalmente, na comparação com as eleições de 2018, o crescimento também está sendo assombroso. Até o último dia 21, o MPT havia recebido 1.112 denúncias de assédio eleitoral em todo o país. Em 2018 foram 212 denúncias.
O assédio se dá de diferentes formas, mas sempre há uma relação de poder. São patrões que fazem ameaças aos funcionários, inclusive de demissões, alteram o horário de trabalho para evitar que os funcionários votem, alertam sobre falências e prometem bonificações a depender do resultado das eleições. O ápice do abuso é exigir que os trabalhadores filmem suas escolhas na urna, mesmo que seja proibido entrar na cabina com celular.
Esse renascimento organizado de um fenômeno tão retrógrado de manipulação precisa ser podado antes que tome proporções maiores nos próximos pleitos. As denúncias são fundamentais, o medo não pode calar as pessoas que se sintam forçadas a fazer escolhas que não querem. Mas é preciso que haja punição, para que ela sirva de exemplo e ajude a coibir esse tipo de crime daqui para a frente. Denúncias podem ser feitas no site do Ministério Público do Trabalho.
A democracia existe para permitir que as pessoas tenham opiniões divergentes e possam exercer a cidadania e o direito de votar no candidato que quiserem. O crime de assédio eleitoral viola um princípio democrático que é o respeito às diferentes opiniões. A hierarquia deve ser respeitada no âmbito do trabalho, mas não pode de nenhuma maneira servir para manipular o voto de funcionários ou colaboradores.
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